Adelardo de Bath, pioneiro da ciência europeia – 27/08/2024 – Marcelo Viana

O inglês Adelardo de Bath fornece um ótimo exemplo de trajetória de um matemático e cientista na Idade Média europeia. Segundo o próprio testemunho, nasceu na cidade de Bath, no sudoeste da Inglaterra. Acredita-se que tenha sido por volta de 1080.

O nome é de origem anglo-saxônica. Ora, apenas alguns anos antes, o país tinha sido conquistado pelos normandos do rei William 1º, que ocuparam as posições de privilégio, relegando os anglo-saxões às camadas inferiores da sociedade inglesa. É plausível, portanto, que uma educação de qualidade estivesse fora do seu alcance.

A solução foi emigrar, ao final do século 11, para a cidade francesa de Tours, onde estudou astronomia e matemática. Após alguns anos na França, por volta de 1109 partiu numa longa viagem que o levaria a Itália, Espanha, Sicília, Grécia e Palestina. Nesse período, aprendeu árabe, o que lhe deu acesso à rica literatura científica nessa língua.

Em 1126, regressou ao Ocidente, trazendo consigo diversos textos antigos e a vontade de disseminar o conhecimento adquirido. Foi um dos primeiros a introduzir na Europa o sistema de numeração posicional hindu-árabe que utilizamos até hoje.

É dele também a mais antiga tradução dos “Elementos”, de Euclides, para o latim —curiosamente, feita a partir da tradução árabe, já que o original grego se perdeu. Publicada em Veneza em 1492, após a invenção da imprensa, tornou-se um dos principais textos de ensino da matemática na Europa.

A par de várias outras traduções, Adelardo também deixou vários textos originais. “Regulae abaci” (“Regras do ábaco”, em latim) é um tratado sobre o uso do ábaco. Está recheado de exemplos sobre cálculos monetários que levaram alguns historiadores a conjecturar que Adelardo estaria ligado ao Exchequer, a autoridade financeira da Inglaterra da época.

Se for verdade, significaria que àquela altura já se havia alçado a uma posição importante na sociedade. Isso ajudaria a explicar por que razão, em 1130, foi dispensado do pagamento de uma “multa de assassinato” no condado de Wiltshire. Tratava-se de uma punição financeira aplicada a todos os cidadãos sempre que um normando era assassinado na região.

Em “Questões sobre a Natureza”, sua principal obra, defende a prioridade da razão sobre a fé no domínio da ciência. Na discussão de temas polêmicos (“animais podem adquirir conhecimento?”), apela com frequência para os ensinamentos árabes.

Acredita-se que tenha morrido na sua cidade natal de Bath em meados do século 12.


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