O caso das denúncias de assédio contra o ex-ministro Silvio Almeida pode ser uma oportunidade para que militantes do progressismo de cunho identitário reavaliem suas táticas de ação política.
Foi uma grata surpresa vê-los pedindo cautela para que não fossem feitas acusações sem provas.
Tal sensatez, que respeita o devido processo legal, não é vista quando acusados são brancos ou não alinhados à esquerda.
Essa obsessão identitária por aspectos físicos (sexo, raça e sexualidade) aliada à ideia de dominação sistêmica embota o debate público e solapa direitos.
Toda denúncia feita por mulheres, negros ou homossexuais é verdadeira porque esses traços biológicos pertencem a grupos oprimidos. Todo acusado tenta se defender alegando fazer parte de um desses grupos —Almeida, a propósito, usou essa cartada.
Do mesmo modo, quem não está na panelinha fisiológica é culpado a priori. Não à toa, na última década, as redes sociais viraram tribunais que incitam linchamentos virtuais e cancelamentos.
Não são poucos os casos, no Brasil e no mundo, de pessoas que têm suas vidas destruídas por denúncias que depois se verificam falsas —o movimento feminista MeToo, por exemplo, estimulou esse denuncismo global.
A sanha punitivista é tamanha que inventam-se crimes, como a ignorante imputação de racismo às palavras “criado-mudo” e “esclarecer” ou a quem ouse fazer críticas, como o antropólogo Antonio Risério —cujo linchamento Almeida ajudou a promover.
O preconceito contra negros, mulheres e homossexuais não é desculpa para dilapidar pilares do Estado de Direito, arduamente construído ao longo de séculos.
Destruir é muito mais fácil, rápido e estimulante do que construir e preservar. Mas é atitude infantil e primitiva, típica de crianças mimadas, turbas de justiceiros e governantes despóticos.
O progressismo precisa amadurecer e aprender a criar consensos, em vez de acirrar disputas com bases infundadas, para construir políticas efetivas de combate ao preconceito aliadas à garantia dos direitos fundamentais —a não ser que prefira continuar em dissonância cognitiva, enquanto promove autoritarismo em nome da liberdade e da justiça.
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