Eliminação do Brasil é frustrante; desrespeito ao processo é pior

Eliminação do Brasil é frustrante; desrespeito ao processo é pior

O trecho da entrevista de Andreas Pereira mencionado aqui foi utilizado pelas mídias sociais oficiais da seleção do Uruguai ao longo do sábado. Um treinador como Marcelo Bielsa certamente tem suas próprias ferramentas de motivação, mas esse tipo de coisa sempre encontra seu caminho até os celulares ou os ouvidos dos jogadores, e, num início de pouco futebol, Ronald Araújo desenhou um alvo nas costas de Endrick. Com ironia, um gesto de boas vindas à rivalidade entre seleções sul-americanas, cuja intenção era obviamente desestabilizar o jovem fenômeno brasileiro.

O jogo de Araújo terminou aos 32 minutos, vítima de uma lesão muscular. O de Endrick, titular pela primeira vez na Copa América, seguiu um curso prático de marcação bruta oferecido pelos jogadores vestidos de azul celeste que estivessem mais perto dele, sem distinção. Ele era o mais visado, mas não o único.

De parte a parte, é bom que se diga, ninguém aliviou em bolas divididas, o que resultou em frequentes paralisações por causa de jogadores caídos e muita conversa com o árbitro argentino Dario Herrera. Encontros assim não costumam ser generosos em ocasiões de gol. O Brasil teve duas finalizações certas no primeiro tempo, ambas com Raphinha em ótima condição diante de Rochet, que fez boas defesas. O Uruguai não chutou no espaço entre as traves, embora Darwin Núñez tenha cabeceado para fora uma oportunidade clara.

Na volta dos vestiários, pode-se dizer que a missão dos dois times era melhorar o mais baixo índice de acerto de passes num primeiro tempo no torneio, apenas 71,9%. A missão do árbitro era estar à altura de um jogo como esse no aspecto disciplinar. É muito pior quando um jogo que mais parece uma discussão conta com a colaboração de um apitador omisso e desorientado.

Em temas futebolísticos, a marcação uruguaia na saída de bola gerou repetidos problemas para Alisson e os zagueiros da seleção. Quando foi possível superar a pressão, o meio de campo brasileiro sofreu, de novo, para fazer a bola chegar com qualidade ao ataque. E os atacantes estiveram sempre encaixotados por defensores em maior número, sem espaço e sem ideias.

A expulsão de Nández, com atraso, por falta violenta em Rodrygo no minuto 74, criou a impressão de uma partida um pouco mais aberta no trecho final. Pouco se esperava do Uruguai em inferioridade numérica, muito se deveria esperar do Brasil com um homem a mais. Não aconteceu. Dorival mexeu no limite máximo: Douglas Luiz, Andreas Pereira, Savinho, Martinelli e Evanilson entraram num jogo que cambaleou até os acréscimos, e depois até o destino inevitável de eliminatórias em que o futebol é superado pelas faltas (41, 26 cometidas pela seleção uruguaia): os pênaltis. É correto dizer que, ao menos, haveria alguma emoção.

Militão perdeu a primeira cobrança do Brasil. Douglas Luis perdeu a terceira. Alisson frustrou Gimenez e manteve a disputa em andamento quando um gol eliminaria a seleção, mas Ugarte não desperdiçou a segunda chance. Deixar a Copa América antes das semifinais é decepcionante e o pachequismo exigirá o fígado de Dorival Júnior e de jogadores escolhidos por antipatia, o que, dirão alguns, é “cultural”. O jogo contra o Uruguai foi o oitavo sob o comando da comissão técnica atual. Isso é cultural, e aí está o problema.

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