vocês e seus filhos serão uma família completa

A terceira história é fictícia, é a da Juliana Paes, na série Pedaço de Mim, da Netflix. Essa série me deixou obcecada por vários dias.

A trama, embora não seja real, foi escrita pela Ângela Chaves – e isso não é um detalhe, já que a história gira em torno do corpo de uma mulher. Não quero dar muitos spoilers, mas sim destacar a importância de termos autoras escrevendo personagens a partir da perspectiva da desigualdade de gênero.

Nós vivemos isso todos os dias. Com taxistas agressivos quando estamos no banco de trás, médicos que não nos escutam durante a gestação ou o parto, maridos que acham que têm o direito de decidir quais amigas podemos ter. Na série, Juliana é Liana, uma mulher bem-sucedida profissionalmente, que é casada com Tomás, um cara que qualquer uma de nós consideraria um cara legal.

Mas Liana quer ser mãe e a dificuldade para engravidar a deixa menos sexy, menos leve, menos coadjuvante. Então, Tomás a trai – afinal, ela estava muito chata, obcecada com a ovulação, etc. – e o resto… bom, eu recomendo que vocês assistam. Porque o que vemos em 17 episódios é uma análise perfeita de um pensamento muito comum entre os brasileiros. De que a família é uma instituição sagrada, com papeis definidos, e sangue como cola. Como Heloisa Teixeira bem diz, “a família é o crime perfeito”.

Quando falo de família, me refiro à composição patriarcal: homens no comando, filhos como objetos narcísicos, e mulheres como um segundo sexo, como dizia Simone de Beauvoir. A serviço dessa estrutura. Bom, eu poderia passar horas elogiando essa série. Além do roteiro incrível, a direção também é impecável. E os atores são excepcionais, todos apropriados dos seus papéis, trazendo à tela aquela alma que vaza da tv e que nos deixa apaixonados.

Há muito tempo eu não sentia tanta saudade de atuar. Porque a coisa mais bonita dessa profissão, na minha opinião, é contar uma história que, se tudo der certo, vai nos entreter, mas que também vai nos dar algo que a gente precisava muito ouvir, e nem sabia que precisava.

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