Lá na sala de casa, minha filha biscoita, que ainda rascunha sua maneira de viver, já teve de se deparar com debates cujas complexidades remontam décadas de discussões acaloradas.
Embora tenha apenas nove anos, Elis já precisa se debruçar sobre pensamentos propagados como fundamentais, urgentes, indispensáveis para que tenha um futuro minimamente razoável. Fico com certa vergonha.
“Pai, então a sua geração acabou com tudo e por isso o ar agora tem esse cheiro de queimado? Pai, se telas fazem mal, por que os adultos ficam o dia todo em frente do computador? Pai, por que os candidatos a prefeito contam mentiras e espalham fake news?”
A molecada ainda lida com debates sobre reflexos da pandemia em seus comportamentos, um mundo cheio de guerras com cenas dramáticas por todos os lados e o cyberbullying quando se brinca no ambiente on-line.
Haja saúde mental para ser criança. Opa, olha aí outro tema que os meninos e meninas da atualidade precisam colocar em seus afazeres: cuidar da mente, dos pensamentos, das emoções.
Na minha tenra infância as preocupações eram com questões bem mais comezinhas: se pegar o mandruvá na mão, vai queimar? Como será o capítulo final da Caverna do Dragão (que nunca existiu)? Com quantos centavos eu compro uma paçoca?
Enquanto gerações anteriores eram marcadas por realidades que excluíam as diferenças, que praticavam toda ordem de preconceito, as escolas dos pequenos hoje passaram a realizar o óbvio, de uma vez, tentando salvar um restinho de civilização.
Agora, todo o mundo pode e deve estar dentro. Em uma sala só há crianças que não falam português, os que são hiperativos, os que nunca receberam um não dentro de casa, os que querem piadas de internet durante as aulas de matemática, os que se manifestam física e intelectualmente de formas menos usual.
Tudo isso é sim uma celebração mais que necessária, tardia e justa para a diversidade e para a formação de valores nos pequenos, mas convenhamos que deixou-se muita gente para trás no passado e, agora, aperta-se para todos os lados –inclusive a cabeça dos professores— para que a viagem pela educação seja plena e plural.
Atualmente, as crianças precisam entender, e rapidamente, que pessoas mais velhas e supostamente mais responsáveis, podem promover discórdias e fomentar divisões, até mesmo entre a molecada, procurando relevância em quem ganhou e quem perdeu no pedra, papel, tesoura.
Não se trata de exaltar que gerações anteriores tiveram infâncias lindas e perfumadas e nem sabiam disso, afinal, gente miúda não tinha voz, não tinha vez e ainda levava palmada. O ponto é que o peso das dores do mundo parecia demorar mais para recair sobre as costas.
O lado bom é que os mais velhos de hoje têm uma nova chance para fazer melhor aos que virão, e com uma arejada companhia de pequenos cheios de pensamentos vibrantes para talhar dias melhores.
Para isso, dá para usar ferramentas poderosas tanto para quem já cresceu, como para quem ainda habita a meninice: brincar e imaginar juntos. Feliz Dia da Criança!
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