O próprio Gabriel Galípolo ajudou a costurar a declaração de apoio do presidente Lula à autonomia do Banco Central e o aceno a novas medidas para proteger o arcabouço fiscal.
O gesto de Lula é uma tentativa do governo de coordenação das expectativas fiscais. Uma busca de armistício após uma semana sangrenta no mercado financeiro de disparada do dólar para patamares inimagináveis há seis meses.
No início de julho, quando Lula foi aconselhado a moderar suas falas para não dar combustível à crise, durante jantar na casa do ministro Fernando Haddad (Fazenda), o dólar girava em torno de R$ 5,70.
Depois reunião, o ministro sinalizou que apresentaria um pacote de corte de gastos, mas Lula continuou batendo no mercado e aumentando a tensão.
As conversas entre Galípolo e Lula começaram na terça-feira (17). Nesse dia, a cotação da moeda norte-americana bateu R$ 6,20 num misto de maior procura por dólares por parte de empresas e pessoas físicas para remeter ao exterior e reação às incertezas fiscais.
O BC tinha dado um choque de juros e havia a expectativa de um recuo do dólar, o que não aconteceu. Pelo contrário. Ao longo da semana, mais altas do dólar, boatos e acusações de auxiliares de Lula e petistas nas redes sociais de que o mercado estava promovendo um ataque especulativo ao presidente e ao seu governo.
Um desses rumores era de que o governo pensava em acionar a Polícia Federal contra o que petistas chamavam de “cartéis financeiros”.
O que em parte acabou ocorrendo com a decisão da AGU, no dia seguinte, de encaminhar ofícios à Polícia Federal e à CVM para apurar possíveis crimes contra o mercado de capitais a partir da disseminação de falsas declarações de Galípolo.
Em meio à queda de braço, foi ficando claro também que a votação do pacote de Haddad, desidratado pelo Congresso, não seria mais suficiente para colocar o dólar num patamar menos assustador.
Bancos passaram a trabalhar com a hipótese de uma taxa de câmbio constante nos níveis em torno de R$ 6 daqui em diante, um cenário desalentador para economia brasileira.
O diagnóstico levado a Lula por Galípolo foi que o problema era de credibilidade. E que, na ausência de bala de prata para as contas públicas, não adiantava ficar chamando o mercado de especulador.
Um ponto que foi reforçado foi de que que essa guerra só levaria os investidores a ficarem com mais medo e que não teria como o BC fazer o trabalho sozinho. Seria preciso afastar os ruídos com a articulação de um comunicado claro.
Lula gravou o vídeo de apoio a Galípolo ao lado dos ministros Rui Costa (Casa Civil), Haddad e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento). Falou que estava mais convicto de que nunca de que a estabilidade econômica e o combate à inflação são as coisas mais importantes para proteger o salário e o poder de compra das famílias brasileiras.
O presidente terá que partir para ação se quiser ser efetivo na virada de comunicação que começou a implementar nesta sexta-feira (20). Só o gogó não basta.
Ajustando o tom, Galípolo e Haddad começaram a falar que o corte de gastos é um processo que tem que ser permanente. Já é um discurso diferente do presidente do BC, Roberto Campos Neto, que defendeu um choque fiscal nos últimos meses.
Galípolo toma posse no cargo de presidente do BC oficialmente no dia 1º de janeiro.
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