São Paulo
A lista de peões da 16ª edição de A Fazenda (Record), publicada pelo F5, é surpreendente. Dos 20 nomes, quase metade é ex-não-sei-quê-de-não-sei-quem ou de não-sei-onde. Só depois de muita pesquisa, boa vontade e perda de alguns neurônios que você finalmente exclama: “ah! acho que eu já ouvi falar, sim”.
No meu caso, o “ah!” nem chegou a sair quando li nomes como Luana Targino, Suelen Gervásio, Yuri Bonotto. Mas eu ri quando li “ex-bombeiro da Eliana”. Que título, minha gente.
A pergunta que nos vem à mente ao ler a lista é: por que não conhecemos quase ninguém? Para responder, vou contar uma breve história sobre critérios para escolher famosos antes e depois da internet. Senta que lá vem história.
Nos anos 1990, quando as revistas sobre celebridades eram vendidas em bancas e populavam todos os salões de beleza e consultórios do Brasil, entrevistei a editora-chefe de uma dessas publicações. Meu objetivo como repórter era descobrir como os famosos eram escolhidos para aparecer naquelas páginas. Nunca esqueci da resposta.
A revista trabalhava com três categorias básicas de celebridades: “do momento”, “em cartaz” e “eternas”, mais ou menos como a classificação P-M-G das roupas, aplicada à intensidade e duração da fama de cada um.
Eternas eram aquelas que o Brasil inteiro reconhecia pelo nome, como Xuxa, Hebe, Gugu, Pelé, e que vivas ou não, chamam a atenção. Famosos “em cartaz” incluíam os artistas das novelas em exibição, atores com peças de teatro em cartaz, artistas fazendo shows, atletas disputando campeonatos. Pessoas “do momento” eram todos os que estavam nas notícias por orbitarem em torno dos famosos ou que tiveram importância no passado e voltaram.
E qual o tamanho desse universo de famosos que saíam nas revistas? Naquela época, nos anos 1990, quando o Brasil tinha 150 milhões de habitantes, os famosos do momento (tamanho P) eram cerca de 0,01% a 0,05% da população, ou seja, entre 15 mil e 75 mil pessoas. Os “em cartaz”, fama M, correspondiam a 0,001% da população, de 1.500 a 2.000 pessoas. E os eternos eram de algumas poucas dezenas.
Até que, em 1995, a internet chegou ao Brasil. E vieram os portais, sites, blogs, reality shows, redes sociais. E toda a comunicação no Brasil e no mundo mudou. Hoje, quase 6 bilhões de pessoas passam grande parte do dia nas telas, buscando informação, diversão, distração (e algum conhecimento).
As pessoas também começaram a produzir conteúdo. Surgiram os blogueiros, vlogueiros, youtubers, instagramers, tiktokers. Muitos ficaram famosos e entram na nova categoria de influenciadores. E, com bilhões de pessoas conectadas, a necessidade de preencher mídias digitais com conteúdo constante impulsionou o crescimento do número de celebridades e influenciadores.
E quantos são esses novos famosos da internet? Segundo a versão mais recente do ChatGPT, estima-se que existam mais de 50 milhões de criadores de conteúdo no mundo, representando cerca de 0,6% da população global atual de 8 bilhões. No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Influenciadores Digitais, calcula-se que existam cerca de 500 mil influenciadores no país, o que corresponde a aproximadamente 0,23% da população brasileira de 214 milhões.
É por causa dessa e de outras mudanças estruturais que um reality como A Fazenda -que confina pessoas por tanto tempo-, gera brigas e tretas o tempo todo, priva pessoas de suas vidas e submete os participantes a provas nem sempre agradáveis. E é por isso que tantos famosos tamanho PP estão lá.
Porque os famosos GGG não querem ir, os G não aceitam nem pagando, os M tem outros compromissos, os P ficam na dúvida se o sofrimento compensa. E os que enfim estão lá, precisam do programa para serem catapultados pela hiper exposição para uma fama maior e mais rentável ou para não caírem na categoria dos esquecidos.
São novos tempos, estranhos e questionáveis. Em que todos querem ter milhões de seguidores, para ganhar milhões de reais, para viver uma vida de milhões de privilégios. A parte boa é que, pelo menos, estando na Fazenda, estarão fazendo um trabalho honesto. Pior são aqueles que vão parar nas páginas policiais, num Brasil em que a cada SEMANA, um influenciador entra na mira da polícia por crimes digitais e estelionato.
A todos os que vão participar da Fazenda 16 e aos que vão assistir, boa sorte. Apreciem com moderação, consumam com responsabilidade e, se forem beber, não dirijam.