Este humilde escriba gostaria de dizer ao querido leitor e à querida leitora que passou o sábado e o domingo de olho em seleções europeias na sempre desinteressante Liga das Nações, mas estaria mentindo. Não vi nada.
Morador da região central, fui um dos milhares de clientes da Enel na capital paulista que passaram algum (na verdade, muito) tempo com problemas de energia. A luz até voltou no sábado, mas a TV/internet só chegou quase na hora do Sunday Night Football, da NFL. Pobre New York Giants.
Pensando bem, foi um ótimo fim de semana esportivo para a Aneel e/ou Enel derrubarem a energia de metade da cidade de São Paulo. Afinal, a grande partida de domingo por aqui foi o Futebol da Esperança —um excelente nome para uma partida disputada na Neo Quimica Arena, casa do Corinthians; teremos por lá vários jogos da esperança ainda neste ano.
Enel e seleção brasileira têm mais coisas em comum do que poderia imaginar nossa vã filosofia futebolística. As duas possuem muito dinheiro em caixa e mandatários que fazem promessas vazias. Ambas também estão familiarizadas com apagões.
Nosso apagão mais famoso em campo completou dez anos recentemente, e aconteceu no Mineirão. Alemães, sem crise de energia, se aproveitaram bem na época.
Não repetimos nada como aquilo, mas continuamos com apagões ocasionais inexplicáveis. O último foi exatamente no derradeiro confronto, contra a fraca seleção do Chile, logo no início do duelo. Todos os jogadores do sistema defensivo foram atingidos pelo tal apagão, incluindo o goleiro Ederson. O resultado foi um gol de cabeça de Vargas, 1,74 m, que nem saiu do chão para encobrir nosso arqueiro.
Depois, a seleção virou o jogo —porque o Chile é ruim demais.
Aliás, este escriba também tem achado curioso, quase engraçado, as rugas de preocupação de parte da imprensa com as atuais Eliminatórias Sul-Americanas. Consigo cravar fácil: o Brasil vai se classificar para a Copa de 2026. Ah, mas e se perder para o Peru? Vai classificar. E se o Neymar não voltar até 2029? Vai classificar. E se trocarem o técnico, dona Lúcia mandar uma carta no intervalo, Fred correr para marcar zagueiro croata, Cerezo atravessar a bola na intermediária, Felipe Melo acertar um holandês maldosamente e Bernard-alegria-nas-pernas virar titular, tudo ao mesmo tempo? Vai classificar.
Não há polêmica nem drama. E não há chances de ficar fora da Copa nesse sistema de pontos corridos. As Eliminatórias deveriam ser suspensas para Brasil e Argentina. Já era vergonhoso com quatro vagas entre dez candidatos. Agora com seis (e meia) não tem como ficar fora, nem que Ednaldo quisesse, nem que a Enel interferisse. Simplesmente não dá, impossível.
Mas o futebol pífio do Brasil tem servido bem para parte da imprensa. Dá para vender um certo drama nos confrontos, um tom trágico, um “temos que ganhar”, “corremos perigo”, “você viu o que ele fez?”.
Contra o Peru, Dorival Jr. deve promover mudanças, como Bruno Guimarães no time titular e Danilo promovido a ex-lateral direito da seleção —ótima pessoa, por sinal, mas precisamos seguir em frente na posição. E mesmo que o Brasil ganhe por 7 a 0, tampouco se deixe iludir, querido leitor e querida leitora.
O Peru não conseguiria vaga na Sul-Americana se disputasse o Brasileiro. É só a seleção evitar o apagão.
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