Não é só no futebol. Homens quando frustrados pela própria incapacidade de fazer algo parece que buscam criticar o trabalho de mulheres. Como se ali, se crescendo para cima de uma moça, pudesse mostrar a própria força (da qual talvez tenha duvidado ao encarar os fracassos recentes). Ele não deve satisfações à jornalista, diz antes de se contradizer e responder às perguntas de Alinne. O projeto era constranger? Que tipo de mal-entendido pode desculpar uma fala misógina?
Como repórter, não consigo contar quantas vezes sofri agressões e assédios de homens a quem entrevistei ou a quem era subordinada. Trabalhar com jornalismo é levantar sabendo que a luta é complicada. Se você é uma mulher, as dificuldades dobram. Inúmeras vezes fui ignorada em salas onde o entrevistado só olhava nos olhos dos homens presentes. Já tive comentários sobre o meu corpo expostos enquanto fazia entrevistas. Desmoralização de todos os tipos. A gente segue.
No futebol, em 2024, é inadmissível que isso ainda aconteça. Como que nenhum dos colegas presentes na sala da coletiva não levantou a mão na sequência da misoginia para confrontar o treinador? “Abel, você reconhece essa fala como machista?”, poderia ter perguntado um homem na hora. Será que ele cresceria para cima do cara também? E se todos os homens levantassem e se recusassem a seguir a conversa sobre futebol com um misógino?
Parece utópico demais ver homens se unindo para combater o machismo, ainda mais em um ambiente que historicamente sempre o naturalizou.
Futebol é comportamento. Não existe mais esse papo de vamos falar sobre o que acontece entre as quatro linhas. Todas as mesas redondas repletas de homens devem repudiar o tratamento de Abel à jornalista neste domingo. A audiência cresce com fofoca e com barraco. Mas enfrentar o machista tête à tête e ajudar a nós, mulheres, nessa luta, homem nenhum quer.
Sigamos.