Abertura paralímpica soma diversité ao lema dos franceses – 28/08/2024 – Assim Como Você

Ver a avenida Champs-Elysées, símbolo planetário do glamour e da beleza, tomada de pluralidade humana, com gente em cadeira de rodas, próteses, muletas, bengalas e demais acessórios tão estigmatizados, colocou Paris e os franceses, mais uma vez, em vanguarda.

Pessoas com deficiência ocupando a rua, a mais charmosa das ruas, lugar de onde são tão excluídas, em uma inédita abertura paralímpica fora de um estádio, incorpora ao lema da França –Liberté, Égalité, Fraternité— o termo diversité. Espera-se que seja honrado.

Romper padrões e expor paradoxos, por sinal, deram o tom de toda a cerimônia. O desfile das nações, por exemplo, tomou mais tempo do que previa o protocolo. E é assim mesmo. Condições físicas, sensoriais e intelectuais apresentam outras maneiras de entender o rápido e o devagar.

Os monumentos históricos da Cidade Luz, representados pela Place de la Concorde, encararam suas sombras de acessibilidade e ganharam novo piso, viram rampas se erguerem e quebraram barreiras arquitetônicas. As pessoas sempre estão antes do patrimônio. Parece óbvio, mas não é.

A França rompeu padrões também na execução oficial de seu belíssimo hino. O clássico tom marcial e ordeiro ganhou roupagem nova, com harmonia que levou o pensamento ao colorido, ao sublime, a um abraço entre todos.

Mas foi por meio da mistura de artistas com e sem deficiência em várias apresentações ao longo da cerimônia que o tom de enfrentamento com o que é tido como modelo, com o que é tido como harmônico, com o que é tido com belo se manifestou de maneira mais completa. O ponto alto ficou por conta de um Bolero de Ravel inclusivo que acompanhou parte do acendimento da pira paralímpica.

A chama simbólica dos jogos também prezou pela pluralidade, com seis atletas com deficiência no ato final na pira. Foi bonito, mas Tóquio e Rio deixaram o marco histórico inesquecível, o que não percebi agora, em Paris.

Foi flagrante a diferença entre a retumbância e o gigantismo da abertura olímpica, embaixo de um temporal, e um tom mais contido e simbólico, da abertura paralímpica. Mas, os jogos da diversidade tiveram uma presença que fez de seu início apoteótico, a luz intensa do sol e um entardecer de dar gosto a Monet. Coisa dos deuses.

O brilho da estrela maior, seguramente, é o indicativo da urgência de tirar pessoas com deficiência de suas dolorosas e limitantes invisibilidades. Que haja luz para a nova e promissora revolução francesa.


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