Não só pelo supracitado baixo astral das trocas de ofensas, mas também pela terrível dissociação entre perguntas e respostas. Os candidatos respondiam o que bem entendiam, sem qualquer tipo de respeito aos temas propostos.
Me veio à cabeça eventos em que influenciadores não tiram a cara do celular e ficam filmando tudo para mostrar para suas bases de fãs. Não havia uma conexão real entre os presentes, tudo é pensado para os cortes ou a repercussão posterior. Uma fabriqueta de clickbait.
Desse jeito, a única função de um debate político televisionado atualmente parece ser lamentar o ocorrido. Urge uma mudança radical no formato, para que volte a deixar a política morna e modorrenta, em vez dessa tensão inútil provocada por desequilíbrio de dopamina. Mais ou menos como naqueles restaurantes em que não há wifi, apenas uma plaquinha sugerindo que “conversem entre si”.
Para continuar fazendo algum sentido no objetivo final que se propõe, o debate na TV precisa ser menos esquemático, com uma presença cada vez mais firme e impositiva do âncora. Sem rodeios, sem acenos para a rede social, respeitando os temas que são realmente relevantes para o eleitor.
Foi um caminho interessante o formato do debate da ABC News entre Kamala Harris e Donald Trump, que disputam a presidência dos Estados Unidos. Era quase como se eles estivessem sendo sabatinados em algum daqueles programas de júri popular que fazem sucesso por lá na programação vespertina.
Por aqui, os debates estão mais animados que o Jogo da Discórdia do BBB ou qualquer barraco das últimas temporadas de A Fazenda. Não é normal! Podemos até dar risada agora, mas é grande o risco de esquecer que a piada é com a gente.