Antiga sede da Rede Zacharias de Pneus resiste no centro – 19/09/2024 – São Paulo Antiga

Certo dia, saindo da sede desta Folha, na região central de São Paulo, me deparei com a bela calçada do jornal, feita em pedras portuguesas. Mas o que me chamou mesmo a atenção foi a calçada do imóvel vizinho, com um desenho muito interessante e que lembra desde um disco de telefone analógico a uma flor estilizada.

O símbolo não era totalmente estranho para mim, mas não associei exatamente ao que era de imediato. Embora já até tivesse fotografado o belo galpão onde fica essa calçada, nunca tinha reparado no piso. Fui para casa com a missão de descobrir o que era aquele logotipo e o que funcionou ali no passado. E encontrei a sua origem.

Neste galpão, localizado no número 477 da alameda Barão de Limeira, funcionou a primeira loja (depois sede do grupo) da Rede Zacharias de Pneus, cuja trajetória remonta à primeira metade do século 20, precisamente em 1934, quando o filho de imigrantes libaneses Adhmar Zacharias abriu neste endereço seu estabelecimento dedicado a pneus, na época como Casa Zacharias de Pneumáticos.

Adhmar foi um empresário de destaque no segmento e sua loja logo se transformaria em referência no setor de serviços e venda de pneus de primeira linha, expandindo sua rede automotiva para diferentes pontos da capital e interior do estado. A empresa teve seu ápice especialmente nos anos 1970 quando passou a produzir comerciais para exibir na televisão.

Em meados da década de 1950 a marca demoliu o velho galpão que ocupava desde 1934 e construiu o que existe até os dias atuais. A edificação, atualmente com a fachada mal conservada, foi pensada para ser a sede do grupo e não foram poupados esforços para que fosse uma construção admirável. Trata-se de um galpão de dois andares, originalmente com ampla loja e estoque funcionando no piso térreo e almoxarifado, refeitório e escritórios no andar de cima, onde além de uma área envidraçada existe uma varanda ajardinada.

O grande destaque da fachada da Zacharias é o belo mural artístico feito em pastilhas de cerâmica, de autoria do artista plástico e decorador português Álvaro de Landerset Simões, que tem hoje poucas obras encontradas no Brasil, mas que em São Paulo foi um dos fundadores do Iadê (Instituto de Artes e Decoração).

HISTÓRIA TRÁGICA E FIM MELANCÓLICO

As coisas começam a tomar um rumo diferente em 1999 com a morte de dois filhos de Assad Zacharias, filho do fundador Adhmar, em um acidente.

No ano seguinte foi a vez do próprio Assad morrer e com isso a empresa ficou nas mãos da viúva, Anna Maria Zacharias, na época uma dona de casa pouco acostumada com a rotina dos negócios. A empresa, que chegou a ter 92 filiais na década de 1980, começou a acumular dívidas que não foram pagas, levando o grupo a entrar em recuperação judicial e encerrar definitivamente as atividades em 2010.

Desde então o belo galpão da alameda Barão de Limeira ficou fechado por longos anos e depois vendido para outra empresa da região, que usa o espaço como estacionamento de veículos. Apesar do fim da empresa, o nome Zacharias ainda é forte no mercado —e lembrado com carinho por entusiastas automotivos.


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