Bolsonaro usa Trump como tábua de salvação – 15/11/2024 – Alvaro Costa e Silva

Da frustração e ódio curtidos e expostos nas mídias ao terrorismo trapalhão (mas não menos perigoso) é um pulo. O segurança do Supremo Tribunal Federal testemunhou o momento em que, próximo à estátua da Justiça, o homem se deitou, colocou o artefato na cabeça e esperou a explosão.

A vítima foi identificada como Francisco Wanderley Luiz, dono do carro que também explodiu no estacionamento da praça dos Três Poderes. Era mais um brasileiro confuso, enganado e teleguiado, cujo corpo ficou horas no chão.

Conhecido como Tiu França, trabalhava como chaveiro em Rio do Sul, Santa Catarina. Nas eleições municipais de 2020, candidatou-se pelo PL, campeão de verbas no fundo de campanha, e não conseguiu se eleger; gastou do próprio bolso R$ 500 e teve 98 votos.

Em agosto ele publicou uma foto dentro do prédio do STF, acompanhada de uma frase de estímulo: “Deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro)”. Desejava ser um mártir da ignorância e do ressentimento e conseguiu com a autoimolação.

Desde o resultado da eleição nos Estados Unidos uma crise de histeria e delírio tomou conta das redes bolsonaristas, organizadas e manipuladas, sobretudo no X de Elon Musk. Uma coluna de opinião que ousasse apontar o autoritarismo de Trump era logo rebatida com milhares de ofensas e ameaças. Muitas mensagens mostravam um enunciado padrão e copiado, uma espécie de mantra opressor metido a engraçado: “Se chorar, manda áudio”.

Inelegível, sem deter o controle das forças da direita, no gozo de uma sobrevida com a demora na conclusão do inquérito sobre o desvio de joias da Presidência, a tentativa de golpe de Estado e a revelação das provas que vão cimentar a denúncia ao Supremo, Bolsonaro usa Trump como tábua de salvação, inflamando a seita de seus seguidores radicais. Um resultado inequívoco da fogueira em que ele quer lançar o país já foi alcançado: o corpo queimado ao lado da mulher de venda nos olhos segurando a espada.

O título do artigo de Bolsonaro publicado na Folha é “Aceitem a democracia”. Se ele tivesse alguma dignidade e não fosse tão covarde na hora de assumir o que fez, seria: “Aceitem a prisão”.


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