Há quem diga que chegar muito perto e não conseguir dói mais do que ficar longe do seu objetivo. Hugo Calderano chegou mais perto do que qualquer outro brasileiro já conseguiu no tênis de mesa e ficou duas vezes a uma vitória de uma medalha olímpica inédita para o país.
Calderano, cabeça de chave número 4, chegou até a semifinal do individual masculino, ou seja, a um triunfo de garantir ao menos a prata, mas perdeu para a grande surpresa do torneio, o sueco Trus Moregard.
Dois dias depois, uma nova chance, dessa vez contra o dono da casa Félix Lebrun na disputa pelo bronze. Calderano não conseguiu superar o francês, que jogou demais e estava embalado pela torcida, e ficou com o histórico, mas amargo, quarto lugar.
Essa dor não é exclusividade de Calderano. Muitos brasileiros e brasileiras nos últimos anos também chegaram muito perto de conseguir uma medalha olímpica inédita para o país e ficaram com um resultado histórico, mas amargo.
Fernando Meligeni em Atlanta-1996
Fernando Meligeni, o Fininho do tênis, nasceu na Argentina, mas escolheu representar o Brasil. Mesmo sofrendo com a xenofobia, tentou levar a bandeira brasileira pela primeira vez no pódio olímpico do tênis.
Em 1996, na cidade de Atlanta, o tenista brasileiro entrou como alternate (quando o atleta fica na lista de espera para ser chamado) e foi fazendo uma campanha histórica para o país. Pela primeira vez, o Brasil tinha um representante nas semifinais.
Meligeni acabou superado pelo espanhol Sergi Bruguera, ex-top 3 do mundo, na semi e foi para a disputa da medalha de bronze com Leander Paes, da Índia. O tenista brasileiro chegou a vencer o primeiro set, mas perdeu de virada para o indiano que entrou na competição com convidado (por não ter ranking para participar).
A derrota marcou tanto Fininho que o atual comentarista de tênis da ESPN postou em seu instagram uma carta para Calderano.
“Quando fui quarto lugar em Atlanta, vi meu mundo desabar por alguns minutos. Lembro do andar até o vestiário; era como se eu estivesse empurrando milhões de correntes e carregando pedras nas costas. Não conseguia levantar a cabeça. Nunca chorei tanto.”
“Hugo, você fez história; você fez milhões de pessoas olharem o tênis de mesa de forma diferente. Você representou seu esporte e país. Sinta orgulho. No meu caso, não tive uma segunda chance nas Olimpíadas. Você pode ter. E terá.”
Meligeni não conseguiu conquistar a primeira medalha do tênis brasileiro, mas 25 anos depois, Luisa Stefani e Laura Pigossi venceram o bronze nas duplas femininas nas Olimpíadas de Tóquio.
Handebol feminino na Rio-2016
A frustração de um atleta individual fica em um quarto lugar, tão próximo de uma medalha inédita, deve ser imensa, assim como um time campeão mundial que sonhava ir longe em casa.
A seleção brasileira de handebol feminino viveu seu auge em 2013 quando conquistou um inédito título mundial, na Sérvia, e chegou embaladíssima para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, a primeira e única no Brasil.
O handebol verde e amarelo nunca tinha avançado além das quartas de final e, jogando em casa, na Arena do Futuro, construída no Parque Olímpico, dava sinais que poderia ir longe.
A seleção terminou a fase de grupos em primeiro lugar, com apenas uma derrota em 5 jogos. Nas quartas, pegou a Holanda, vice-campeã mundial, mas que tinha avançado no sufoco como quarta colocada da outra chave com apenas uma vitória.
Mesmo com a mesma base do título mundial, o time de Duda Amorim e Alê foi superado por 32 a 23 em um jogo dramático, com o Brasil lutando até o final.
Desde então, a seleção brasileira, seja no masculino ou no feminino, nunca conseguiu avançar do primeiro mata-mata. A equipe feminina, única classificada nas Olimpíadas de Paris, podem buscar esse feito contra a Noruega nesta segunda (4) às 16h30, no horário de Brasília.
Futebol feminino em Atlanta-1996 e Sidney-2000
Imagina bater na trave duas vezes, ainda mais sendo o país do futebol. A seleção brasileira feminina passou por isso logo no início da modalidade nos Jogos Olímpicos.
O torneio feminino entrou no programa apenas em Atlanta-996, apesar da disputa masculina ocorrer desde 1908 com times amadores e a partir de 1984 com algumas restrições para profissionais.
O futebol feminino, no entanto, já começou aberto, e o Brasil, pela fama, já era apontado como um dos candidatos ao título. Em 1996, nos Estados Unidos, a seleção acabou derrotada pela Noruega, por 2 a 0, na disputa do bronze. Antes disso, tinha caído para as donas da casa, na semifinal, por apenas um gol.
Na Olimpíada seguinte, em Sidney, a seleção chegou a estar vencendo a semifinal contra a China por 2 a 1, mas tomou a virada faltando 10 minutos para o fim. Na disputa do bronze, mais uma derrota por 2 a 0, desta vez contra a Alemanha.
As mulheres do Brasil conseguiram finalmente subir no pódio no futebol nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, quando Marta, Formiga, Pretinha e companhia derrotaram a Suécia na semifinal e ficaram com a inédita medalha de prata, após americanas superarem as brasileiras no gol de ouro.
Ana Sátila em Paris-2024
Não foi bem em uma disputa da medalha de bronze, mas Ana Sátila chegou o mais perto possível de conseguir o primeiro pódio para o Brasil na canoagem slalom nas Olimpíadas de Paris. Vale ressaltar que o país já tem medalhas na canoagem de velocidade, modalidade de Isaquias Queiroz.
A brasileira de 28 anos está na sua quarta Olímpiada e é o grande nome do esporte que se tornou fixo no programa olímpico em Barcelona-1992.
Medalhista em mundiais, Ana disputou o caiaque (K1) no dia 28 de julho de 2024 e acabou em 4º lugar, a menos de dois segundos, sim segundos, da terceira colocada, que lhe renderia a medalha inédita para o Brasil.
Na última quarta (31), ela também disputou a canoa (C1) e ficou em 5º lugar, também a poucos segundos do pódio.
Ana Sátila já fez história em Paris, mas ainda tem mais uma chance de buscar a medalha inédita na canoagem slalom no caiaque cross. Ela vai disputar as quartas de final da prova nesta segunda (05), às 10h30 da manhã, no horário de Brasília.
Darlan Romani e Caio Bonfim
O atletismo brasileiro já subiu ao pódio olímpico, sendo que a primeira vez foi com José Telles da Conceição no salto em altura em Helsinque-1952.
Desde então, algumas provas, no entanto, ainda não tiveram brasileiros conquistando medalhas. O arremesso de peso é uma delas, mas Darlan Romani, o Senhor Incrível, chegou tão perto duas vezes.
Na Rio-2016, competindo em casa, Darlan ficou em 5º lugar e em Tóquio-2020, em 4º lugar. A diferença no Japão para a medalha inédita foi de apenas 60 centímetros. Em Paris-2024, o brasileiro sofreu com uma hérnia de disco e precisou abandonar a disputa.
Outra prova que ficou sem brasileiros no pódio por muito tempo foi a marcha atlética. Caio Bonfim terminou em 4º lugar na Rio-2016 e desabou chorando por chegar tão perto da medalha que seria inédita na disputa.
8 anos depois, Caio se superou e foi medalha de prata aos 33 anos e em sua quarta Olimpíada. O exemplo do marchador pode inspirar Calderano a tentar, mais uma vez, a medalha inédita no tênis de mesa nos Jogos de Los Angeles, em 2028.