Cometa se aproxima da Terra e promete espetáculo – 06/10/2024 – Mensageiro Sideral

Ainda é cedo para proclamá-lo “o cometa do século”, mas a boa notícia é que o cometa Tsuchinschan-Atlas (designação C/2023 A3) sobreviveu à passagem pelo periélio, o ponto de máxima aproximação com o Sol, o que garante um belo espetáculo visual pelos próximos dias.

Muitos astrônomos estão apostando que não chegará a ser mais brilhante que o McNaught, de 2007, que atingiu magnitude -6,0 (quanto menor o número, maior o brilho) e chegou a ser visível até mesmo à luz do dia, mas eles também lembram que cometas são como gatos –ninguém sabe exatamente o que farão a seguir. De fato, a passagem pelo periélio pode aumentar o nível de atividade do cometa a ponto de gerar ejeções explosivas de material, capazes de aumentar em muito seu brilho.

“Ainda não é o cometa do século, provavelmente não será, mas ter sobrevivido ao periélio dá um alento”, diz Cássio Barbosa, astrônomo do departamento de física da FEI. “E, claro, quando falamos ‘do século’, é até o momento.”

Lembrando: o que são cometas? São essencialmente grandes agregados de gelo e rocha, remanescentes da época em que o Sistema Solar se formou, há 4,6 bilhões de anos. A imensa maioria desses objetos reside permanentemente nas profundezas do espaço, além da órbita de Netuno, mas alguns deles, por força de uma interação gravitacional ou mesmo uma colisão, acabam sendo atirados para o interior do sistema. É quando propiciam a possibilidade de espetáculos celestes e, na pior das hipóteses (felizmente muito rara), impactos capazes de ameaçar a vida na Terra.

O C/2023 A3 (Tsuchinschan-Atlas), descoberto no ano passado, é um desses. Sua trajetória indica que provavelmente ele nunca esteve nas regiões internas do Sistema Solar antes. Ele vem viajando na nossa direção há milhares de anos e concluiu seu mergulho com a aproximação máxima ao Sol, no último dia 27, quando esteve a 58,6 milhões de km dele (pouco mais de um terço da distância que a Terra guarda da estrela).

Muitos cometas não resistem a esse processo –a radiação solar que vai sublimando o gelo que os compõe, somada ao efeito gravitacional de maré, por vezes os esfarela por completo. Não foi o caso do Tsuchinschan-Atlas, que segurou a onda e agora iniciou seu afastamento do Sol, pegando o caminho de volta às profundezas do Sistema Solar.

O cometa já esteve bem visível no céu da madrugada, na direção leste, antes do nascer do Sol, mas a partir do dia 9, quarta-feira, já passa a ser visível ao entardecer, logo após o poente, na direção oeste. No dia 12, atingirá sua distância mais próxima da Terra: 70,7 milhões de km. No melhor dos casos, pode atingir um brilho de magnitude -4,0 (similar ao de Vênus, o mais brilhante dos planetas, que tem -4,7). “Isso o tornará visível até mesmo em grandes cidades, onde a poluição luminosa costuma atrapalhar a observação”, diz Barbosa.

Com o passar dos dias, ele vai se erguer cada vez mais no céu, mas também perderá brilho, prosseguindo em sua jornada aos confins do sistema planetário –para, provavelmente, nunca mais voltar. Diferentemente de cometas periódicos, que retornam de tempos em tempos (caso mais famoso é o do Halley, com periodicidade de 76 anos), a passagem do Tsuchinschan-Atlas, ao menos para todos os efeitos práticos, será um evento único.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.

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