A reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) praticamente condena à desaparição a última favela da região central de São Paulo, a do Moinho, onde vivem cerca de 800 famílias.
A favela está no raio de ação do grande projeto de reurbanização que envolve a transferência do palácio do governo para o Centro e a construção de 12 torres para abrigar as secretarias e outros órgãos estaduais.
Embora o despejo dos moradores da favela esteja sendo capitaneado pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), do governo do estado, o apoio político da Prefeitura é fundamental para levar os planos de remoção da população local adiante.
No mês passado, foi anunciado que a área de 23 mil metros quadrados do Moinho deve ser transformada em parque como parte de um projeto de requalificação do território em torno da avenida Rio Branco.
A CDHU montou um posto de cadastramento na favela num espaço comunitário chamado Cinema do Moinho. Foram mapeadas 910 edificações na comunidade. Um funcionário informou que o cadastramento tem o objetivo de melhorar as condições de moradia da população e envolve uma “possível remoção”.
O local onde a favela se instalou foi anteriormente ocupado pela indústria Moinho Central, que processava farinha e fabricava ração, e foi desativada na década de 1980. A favela tem 35 anos.
Em agosto, temendo pelo pior, moradores e ativistas fizeram uma manifestação contra a criação do novo centro administrativo estadual.
Os protestos também visaram várias medidas judiciais e administrativas para acabar com ocupações e cortiços e fechar pensões e pequenos comércios do bairro. O objetivo do governo é tirar os pobres do Centro, num processo chamado de gentrificação.
Um panfleto que convocou para o ato tratava do risco de desapropriação forçada sem dar qualquer alternativa aos moradores. Na caminhada pela avenida Rio Branco os manifestantes criticaram o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Nunes.
A polícia afirma que a favela do Moinho serve de base para traficantes abastecerem a Cracolândia de drogas. Há dois meses policiais do COE e da Tropa de Choque realizaram uma operação de busca e apreensão no local.
O governo estadual alega que as famílias que habitam a comunidade vivem sem saneamento básico e em situação de alto risco, pois a área está localizada entre linhas férreas que operam embaixo de um viaduto e possui um único acesso.
Nos últimos dez anos, o local registrou dois incêndios de grandes proporções, que resultaram em mortes e deixaram centenas de desabrigados.
Os planos anunciados pelo governo em setembro incluem a instalação de uma atração turística ferroviária, o Trem do Moinho, que circularia em torno do novo parque.
Além disso, preveem o remanejamento da Linha 8-Diamante, que será desativada no trecho entre Barra Funda e Júlio Prestes para ser transformada em espaço cultural e em memorial ferroviário, e a criação da estação Bom Retiro, também localizada no complexo.
O governo fala ainda em soluções habitacionais: acolhimento de famílias que moram no local, com medidas como Carta de Crédito Individual, Carta de Crédito Associativo e Apoio ao Crédito. No momento, porém, os moradores do Moinho vivem numa situação de incerteza e tudo conspira para o fim da favela.
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