E o Peru não morreu na véspera – 13/10/2024 – Juca Kfouri

Que Dorival Júnior não diga, antes de enfrentar os peruanos nesta terça (15), que a vitória deles sobre os uruguaios valoriza o magérrimo 1 a 0 conquistado pela seleção brasileira em Lima, na segunda rodada do primeiro turno das Eliminatórias, quando o cronômetro marcava 90 minutos de jogo, gol de Marquinhos, de cabeça, em cobrança de escanteio por Neymar —lembra dele?

Porque ali, ainda sob o comando do interino Fernando Diniz, à espera do salvador Carlo Ancelotti, a pior das criações do caricato presidente da CBF Ednaldo Rodrigues, a torcida já se dava conta de o quão medíocre seria a campanha do time que usa a camisa dos pentacampeões mundiais.

Dorival Júnior provavelmente se calará mesmo sobre aquele jogo porque não estava lá.

Que trate agora de saber: a simples vitória no Mané Garrincha será quase nada a menos que seja convincente, enfim com boa apresentação.

Agraciado com a suspensão do jogador Lucas Paquetá, o treinador haverá de escalar Gerson desde o começo e certamente deixará Endrick no banco mais uma vez, convencido de que Igor Jesus é solução melhor.

O ex-palmeirense deverá alcançar a titularidade quando, perto da Copa do Mundo, estiver estraçalhando ao lado de Vinicius Junior e Rodrygo, porque o salvador da lavoura, que jamais pensou em trocar o Real Madrid pela CBF, terá ensinado o caminho.

O Peru, de fato, alcançou a façanha de passar a lanterninha das Eliminatórias para o Chile e, para tanto, contou com a contribuição brasileira em Santiago.

No nono jogo, os peruanos venceram pela primeira vez!

Marcaram o terceiro gol, depois de terem sofrido dez.

Mas venceram o Uruguai do agora tristemente contestado Marcelo “El Loco” Bielsa.

De Rochet, Valverde, Dom Arrascaeta e Darwin Núñez.

Convenhamos, não foi pouca coisa, embora a Celeste estivesse em noite particularmente desastrada na capital peruana e aparentemente entristecida pela crise interna com seu treinador, ídolo de Pep Guardiola, entre outros.

Contudo, triunfo suficiente para o Peru pensar ter sido algo além da melhora antes do fim.

O Peru deve jogar em Brasília não apenas com dois ônibus estacionados em frente à grande área, mas com a Cordilheira dos Andes inteira e mais a parte da floresta amazônica que lhe cabe, com todos os galhos possíveis para emboscar os atacantes brasileiros.

Terá de ser pelas pontas, alargando os 68 metros do gramado o máximo possível, quem sabe com Luiz Henrique e Savinho.

O povo quer goleada e, por compreensível ser o nada ambicioso desejo de se contentar com os três pontos, o ultimamente tenso técnico há de saber que precisa convencer.

Verdade que ninguém marcou mais de dois gols nos peruanos até agora, nem a Argentina, vencedora por 2 a 0, dois gols de Lionel Messi, em Lima.

Chilenos e bolivianos, em casa, também venceram por 2 a 0.

Significa dizer que uma vitória por 3 a 0 estaria de bom tamanho, mas aí a rara leitora e o raro leitor perguntarão: “Por que raios o pobre colunista imagina vitória tão larga se o mar da seleção não está para peixe, que dirá para peru?”.

Longe daqui qualquer pretensão que passe por exigir goleada nesta altura do campeonato, mas, apenas, uma exibição de gala (!) e não de galinha, para ficar no reino das aves.


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