REFORMA TRIBUTÁRIA
O presidente comentou as mudanças feitas pelo Senado na reforma tributária, que podem elevar o IVA a 28,5%:
“Veja: nós não queremos fazer uma reforma para aumentar tributo neste país. Nós achamos que, se o Brasil arrecadar corretamente os tributos já estabelecidos por lei, o Brasil vai ter arrecadação suficiente para cuidar das coisas. Agora, essa proposta aprovada pelo Senado vai voltar para a Câmara porque já tinha sido aprovada na Câmara. Então vamos ver. Quando eu voltar, a partir de quinta-feira, eu vou conversar com as pessoas. Vou conversar com [Fernando] Haddad — possivelmente em casa essa semana — e eu vou ver o que a gente pode fazer. O que a gente não quer é aumento de tributo”
PACOTE DE GASTOS, JURO E INFLAÇÃO
Lula também analisou o pacote de corte de despesas:
“O pacote foi mandado para o Congresso Nacional, e o Congresso tem soberania para mudar as coisas. Se votar alguma coisa, sabe?, que eu possa mudar, eu posso[tentar] mudar, mas eu não vou poder mudar. Então vamos parar com essa bobagem. Ninguém, neste país, ninguém, Sônia, ninguém — vou repetir — ninguém neste país, do mercado, tem mais responsabilidade fiscal do que eu. Não é primeira vez que eu sou presidente da República. Eu já governei este país e entreguei este país crescendo 7,5%; entreguei este país com a massa salarial mais alta deste país. Entreguei este país, sabe?, numa situação muito privilegiada. É isso que eu quero fazer outra vez. E não é o mercado que tem que se preocupar com o gasto do governo. É o governo! Porque, se eu não controlar os gastos, se eu gastar mais do que eu tenho, quem vai pagar é o povo pobre. Então eu quero te dizer o seguinte: nós fizemos aquilo que é possível fazer, mandamos para o Congresso Nacional. A única coisa errada nesse país é a taxa de juros acima de 12% estar acima de 12%. Essa é a coisa errada. Não há nenhuma explicação: a inflação tá 4 e pouco; é uma inflação totalmente controlada, totalmente controlada. Aí a irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia, não é do governo federal. Então amanhã nós vamos cuidar disso também.”
COMENTO
Notaram? Tem de ser o presidente a lembrar aquilo que nós, da imprensa, deveríamos destacar todos os dias: quem faz a reforma tributária é o Congresso, não o governo; quem analisa o pacote de corte de gastos e decide o seu destino é também o Parlamento, não o Executivo, como ele mesmo lembrou. E também serão os deputados e senadores a decidir o Orçamento.
É claro que “uzmercáduz” — e a Dona Maria e Seu Zé não têm nada com isso — poderia levar em conta o seguinte trecho da fala do presidente: “Se eu não controlar os gastos, se eu gastar mais do que eu tenho, quem vai pagar é o povo pobre”. Se os valentes acordarem dispostos a especular, darão atenção a outro trecho: “A única coisa errada nesse país é a taxa de juros acima de 12%, estar acima de 12%. Essa é coisa errada. Não há nenhuma explicação”.
Bem, meus caros, eu concordo com ele. Em 30 anos, de 1995 a esta data, o Brasil teve uma inflação de 3% (centro da meta) ou abaixo em apenas três: 1998, 2006 e 2017. Se a linha de corte for 4%, contam-se apenas quatro anos: além dos três citados, entra 2018.
Lula herdou um centro da meta impossível, de 3,5%, jamais cumprida por Bolsonaro, é claro!, e se cometeu, acho eu, o erro de baixá-lo para 3% na era de um surto inflacionário global. E agora não dá para mudar. Na lógica em curso, não faltará quem veja com bons olhos enforcar pobre com tripa de aposentando para cumprir a meta. Javier Milei não está sendo elogiado por alguns dos nossos “especialistas” por seus especial zelo com os pobrezinhos…