Todos já vimos imagens do Everest cujas encostas estão cobertas de lixo, cilindros de oxigênio vazios e, até, corpos parcialmente enterrados na neve dos pontos mais altos da montanha, onde o resgate é praticamente impossível. Recentemente foi notícia o saco de Cheetos abandonado numa caverna de Carlsbad, no Novo México (EUA) que alterou todo o ecossistema, gerando o caos na vida local, encantada com a novidade dietética. E mais perto ainda é só dar uma espiada nas nossas praias depois de um domingo de sol, com lixo por todos os lados e restos inomináveis da passagem das multidões.
Contra a barbárie, há algumas décadas ganha corpo um movimento chamado de LNT (Leave No Trace —não deixe rastro, em tradução livre). Ou, para os mais realistas, Impacto Mínimo. Em comum, ambos tentam convencer a parte mais porca da humanidade a preservar a natureza pela qual circula sem deixar nada além da saudade, sem levar nada além de boas lembranças.
O conceito, na verdade, vem tentando ocupar espaço no país desde a década de 1970, quando foi criado o Centro Excursionista Universitário da Universidade de São Paulo, inspirado no Clube Alpino Paulista. Como conta Osvaldo Egídio de Oliveira, um dos sócios fundadores do centro, “desde o início a orientação básica era as pessoas não levarem nada, não deixarem nada e, no máximo tirarem fotos dos ambientes, o que acabou gerando o documento Pega Leve, que orienta nossas atividades’”.
Com ele concorda o veterano das matas e coronel aposentado Marcelo Montibeller Borges, da Via Radical Brasil, especializada em cursos voltados à sobrevivência na natureza, que incluiu a matéria este ano em sua grade. “Seria leviano falar que o LNT é novidade”, avalia. “Afinal, devíamos nascer aprendendo a cuidar da natureza, pois dependemos dela em tudo”. Ele faz questão de falar de mínimo impacto e não zero impacto, “pois não temos como zerar nossos impactos, mas podemos e devemos minimizá-los”, acrescenta.
Um dos pioneiros mais ativos na disseminação do conceito de Impacto Mínimo no Brasil é Pedro Lacaz Amaral, do Gear Tips Club, parceira da ONG LNT no Brasil. “Há muitos anos já desenvolvo algumas coisas com material da LNT e criamos os cursos de capacitação de guias de turismo para atuarem nessa área”, conta ele, que já oferece três níveis de formação na área.
“O principal passo do curso é explicar que o mais importante é planejar e se preparar antecipadamente para a atividade a ser desenvolvida”, diz Amaral. Assim, se está previsto acampamento, pensar nas comidas que serão levadas e no gerenciamento dos seus resíduos, como e onde descartá-los, como lavar os utensílios utilizados para não poluir os cursos d’água, onde e como instalar acampamentos, como e onde esvaziar os já famosos shit tubes (recipientes para fezes e outros dejetos orgânicos), entre outros cuidados.
“Uma casca de banana, por mais biodegradável que seja, é lixo antropogênico, pode ser uma espécie que prejudica o bioma daquele local, um restinho da macarronada, por exemplo, não deve ser jogado na terra, mas levado embora”, aponta Amaral.
Outro empresário engajado na divulgação da LNT é Alexandre Palmieri, da Kampa Equipamentos Esportivos, que junto a Millena Pitanguy, da Milla Expedições, oferece cursos gratuitos de formação de guias de nível 1 em Itamonte (MG), “Formamos inicialmente 10 influenciadores digitais que tinham em média em torno de 140 mil seguidores, e fizemos de graça porque acreditamos que não é possível cobrar para ensinar alguém a manter a natureza”, diz Kampa, que reserva metade das vagas de seus cursos para gestores de unidades de conservação. “Nós, empresas que dependemos da natureza para sobreviver, o mínimo que podemos fazer é educar essas pessoas para que mantenham os ambientes”, acrescenta.
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