Quando a Fuvest anunciou que, pela primeira vez, cobraria apenas livros de mulheres como obrigatórios para entrar na Universidade de São Paulo, a notícia veio com uma dificuldade imediata: parte da nova lista buscava revalorizar autoras marginalizadas do século 19 —portanto, seus livros eram quase impossíveis de encontrar nas estantes.
O problema começa a ser solucionado aos poucos, e um passo relevante vem com uma iniciativa da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, ligada à própria USP, que fez uma parceria com a editora Carambaia para editar três desses livros em domínio público numa coleção que sai no início de 2025.
As obras são “Opúsculo Humanitário”, coleção de artigos da feminista Nísia Floresta publicada em 1853, “Nebulosas”, coletânea poética de Narcisa Amália de 1872, e “Memórias de Martha”, romance de 1899 de Júlia Lopes de Almeida —aliás, autora já editada pela Carambaia.
Os três serão cobrados no primeiro vestibular totalmente feminino da Fuvest, que selecionará no ano que vem os ingressantes de 2026.
As edições virão com material farto, que inclui glossário, notas, cronologia da autora e dois textos de apoio —um mergulho mais aprofundado escrito por um especialista da USP e outro voltado aos jovens com dicas de como entrar na experiência da leitura, escrito por bolsistas ligados à biblioteca.
Outros desafios da lista da Fuvest 2026 também estão sendo mitigados —a José Olympio já correu para reeditar “Caminho de Pedras”, da autora da casa Rachel de Queiroz. A Companhia das Letras, que também não é boba, prepara volume com “O Cristo Cigano” e “Geografia”, livros da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen que aparecem, respectivamente, nas provas para ingressantes de 2026 e 2027.
A lista se completa com obras mais fáceis de encontrar: o popular romance “As Meninas”, de Lygia Fagundes Telles, que também é bem publicada na Companhia das Letras, dona ainda do “Balada de Amor ao Vento” da moçambicana Paulina Chiziane; “Canção para Ninar Menino Grande” foi publicado por Conceição Evaristo na Pallas há poucos anos, assim como “A Visão das Plantas” pela angolana Djaimilia Pereira de Almeida na Todavia.
COISA DE PELE Lázaro Ramos já sabe como vai se chamar seu próximo livro, espécie de sequência do best-seller “Na Minha Pele”. Sai no começo de 2025, pela Companhia das Letras, o novo “Na Nossa Pele: Continuando a Conversa”. São histórias que vão da mãe do ator, morta quando ele tinha 18 anos, até outras personalidades negras. Segundo Lázaro, é um livro “mais denso e revelador de aspectos que eu não tinha conhecimento ou amadurecimento para falar antes”.
ARTE POPULAR DO NOSSO CHÃO A Primavera Editorial vai lançar um romance inédito de Ruth Guimarães, autora negra que fez carreira em meados do século 20 e passa por resgate histórico. “Um Tal de Zé”, que inaugura um novo ciclo editorial na casa com curadoria de Maria Carolina Casati, é uma obra inacabada sobre a vida rural e familiar no interior do Brasil.
NOSSA CANÇÃO PELAS RUAS E BARES E a Relicário apresenta ao Brasil a poeta americana Tracy K. Smith, que venceu o Pulitzer de poesia em 2012 por “Life on Mars”, dedicado a seu pai, cientista que trabalhou no telescópio Hubble. O livro imagina uma trilha sonora para acompanhar as peripécias humanas pelo universo e sairá em 2025 com tradução de Stephanie Borges.
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