Sempre que se fala da saída de Nicolás Maduro do poder na Venezuela, é inevitável que a imaginação das pessoas passem a embaralhar várias possibilidades. Algumas são até criativas, como as que nascem da imaginação popular.
Uma delas tem circulado em forma de meme nas últimas semanas e mostra Maduro, pé no chão, cruzando a temível selva de Darién —rota para centenas de milhares de migrantes que buscam chegar aos Estados Unidos— para buscar, quem sabe, uma vida oculta para o sanguinário ditador no país do norte.
Mas essas elucubrações não habitam apenas o território da imaginação. Neste exato momento, há funcionários de governo importantes debatendo o tema. É sabido que, com uma mudança de governo na Venezuela, tanto Maduro como a linha de frente do chavismo —Jorge Rodríguez, Diosdado Cabello e Padrino López— estará automaticamente em problemas, enfrentará a Justiça local, que já não os defenderá mais, ou tentará escapar a algum país amigo que não os detenha como criminosos de guerra ou os extradite.
Há pelo menos algumas eleições a votação se trata mais disso do que de alternância democrática. “Sair do poder, e que descubram a quem matamos, torturamos, roubamos propriedades, mantemos até hoje vivendo em condições sub-humanas, o que fazemos com as facções criminosas que operam para nós? E a extorsão no Arco Mineiro, perderemos todos esses negócios? De jeito nenhum.”
É por isso que falsificar umas atas e montar aquele teatro tosco do domingo à noite é necessário. Maduro não sai do poder fácil porque cometeu muitos crimes e há todo um sistema de delitos ilegais que se conectam diretamente à sua ação.
A Folha conversou com algumas pessoas que receberam como tarefa construir a tal “ponte de ouro”, expressão usada pelo ex-presidente da Colômbia Juan Manuel Santos, para que entregue o poder.
Ele mesmo coloca já de cara que, ao ser escolhido esse caminho, um nível de anistia seria necessário, como os EUA mencionaram nesta semana. Este já poderia ser um primeiro entrave: o que fazer com tantos abusos aos direitos humanos cometidos dentro e fora da Venezuela?
Supondo que se aceite que Maduro saia livre de acusações, o país mais óbvio que poderia dar-lhe asilo, pela cooperação de tantos anos e pela proximidade, é Cuba, onde o próprio Hugo Chávez tentou tratar o câncer que o vitimou.
Mas Cuba guarda também seus receios. A segurança na ilha e a pequena existência de gangues criminosas são alguns de seus poucos êxitos. Poderia receber Maduro, mas talvez não sua gangue de criminosos nem arriscar a frágil estabilidade da ilha.
Os demais destinos são distantes e com uma vida bem diferente da Venezuela. São também países grandes, onde poderia garantir sua segurança: China, Rússia, Irã, onde se exigirá como contrapartida informações estratégicas sobre a região. Também seria necessário negociar que tipo de garantias Maduro e seus sequazes podem dar, nesse caso.
Há quem considere que a própria América do Sul possa oferecer esse exílio sob condições. Mas não abundam exemplos de êxito —por exemplo, a famosa Catedral, prisão erguida por Pablo Escobar, nos anos 1990, onde tinha seus luxos mas não podia sair (ainda que, sim, tenha fugido dali).
As opções que seguramente mais dão medo a Maduro —e que o fariam negociar o que for necessário para não ir parar lá— são a cela de uma prisão de segurança máxima nos EUA por seus crimes de narcotráfico ou uma cela gelada no Tribunal de Haia, onde se decidirá seu futuro.
A essa altura, mais do que maquiar atas de votação, Maduro e seus demais líderes devem estar pensando em como escapar do castigo internacional que os espera e se há algo a oferecer por sua anistia.
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