O fim da disputa mais acalorada das eleições, o primeiro turno na cidade de São Paulo, certamente foi um alívio para muitos no campo da direita. Com a derrota de Pablo Marçal (PRTB), há uma sensação de volta à “normalidade” no ar.
De acordo com a última pesquisa Datafolha, 84% dos eleitores de Marçal devem votar em Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito. Além disso, Marçal corre risco de se tornar inelegível por divulgar um laudo falso contra Guilherme Boulos (PSOL).
As máquinas partidárias também dominaram o cenário das eleições municipais em âmbito nacional. Alimentados pelo orçamento secreto, partidos do chamado centrão, que deveria se chamar “Direitona”, tiveram R$ 26 bilhões do orçamento federal para distribuir em suas bases sem maior transparência e controle.
O resultado era esperado. Municípios pequeníssimos, governados por amigos e parentes, receberam quantias desproporcionais de recursos. Assim, o bloco constituído por PSD, MDB, PP, União Brasil e Republicanos conquistou 600 prefeituras a mais na comparação com o ano de 2020, considerando os resultados do primeiro turno.
No entanto, a “normalidade” política é aparente. Marçal aparece com 18% de intenção de voto para a Presidência em 2026, segundo pesquisa da Quaest, realizada de 25 a 29 de setembro, antes de o influenciador apresentar o laudo falso e ser derrotado nas urnas.
Marçal fica à frente de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, com 15%, e perde para Lula, com 32%. O candidato derrotado em São Paulo ganha de Freitas em todas as regiões do Brasil, menos no Sudeste, e empata com Lula no Sul do país.
Além disso, o influenciador-candidato conseguiu votos em bairros de São Paulo que não são os tradicionais redutos do conservadorismo na cidade, sobretudo na zona leste. O resultado foi obtido sem uso relevante de máquina, e com suas redes sociais afetadas no início das eleições pela suspensão de seu principal perfil no Instagram, na época com treze milhões de seguidores, o mesmo número que Lula possui — ironia da cifra à parte.
A apropriação das ferramentas utilizadas pela indústria da influência em eleições é um fenômeno que vem tomando proporções cada vez maiores. O vereador mais votado em São Paulo é um jovem influenciador bolsonarista, Lucas Pavanato (PL). Em Campinas, outro influenciador foi o segundo vereador mais votado, Vinicius de Oliveira (Cidadania).
Diferentemente da lógica empregada pelas máquinas partidárias, as ferramentas da indústria da influência são capazes de catapultar rapidamente figuras para a política nacional. Políticos como Nayib Bukele, em El Salvador, Javier Milei na Argentina, e Jordan Bardela na França são os exemplos mais recentes e conhecidos nesse sentido.
Entre os jovens, o fenômeno fica ainda mais evidente, como aponta uma pesquisa do Internetlab que realizei com Esther Solano e Thais Pavez com 350 jovens latino-americanos.
Usuários frequentes de Instagram e TikTok, os jovens brasileiros confiam mais em influenciadores que avaliam como “coerentes”. Quase metade (45%) afirma seguir influenciadores que se posicionam politicamente, mesmo número daqueles que afirma ter se posicionado politicamente nas redes em períodos eleitorais. Pablo Marçal é só o começo.
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