Meu sonho me mandou ir para Liubliana – 20/10/2024 – Giovana Madalosso

Meus sonhos já me deram muita coisa. Já disseram a hora de terminar relações. Já apontaram vícios que estavam me fazendo mal. Me deram até um capítulo inteiro de um romance, que só precisei transcrever, tal qual sonhado. Há poucas noites, pela primeira vez, um sonho me disse que eu deveria ir para uma certa cidade. E disse com muita veemência.

O mais curioso é que eu não conheço essa cidade. Nem tinha ouvido falar dela. Quer dizer, é provável que eu tenha escutado ou visto o nome alguma vez, mas só o meu inconsciente memorizou, e não muito, porque também se bateu. No sonho, uma voz sem rosto dizia: vá pra Ljub… jana, comendo parte da grafia original.

Levantei para ir ao banheiro no meio da noite, pensando naquela sugestão. Achei curioso mas não dei muita bola. Quando voltei a dormir, voltei a ter o mesmo sonho, meu inconsciente como uma criança pidona: vai, compra uma passagem pra Ljub…

Acordei com o “Ljub” latejando na cabeça. Fui dar um Google. Lá estava a simpática Liubliana, nome em português da capital da Eslovênia. A maior cidade desse país, com cerca de 200 mil habitantes, e uma das mais verdes da Europa, cortada pelo rio Ljubljanica, com construções baixas e charmosas em ambos os lados.

Agradeci o meu inconsciente pela generosidade. Poderia ter me mandado para uma zona de guerra. Para um lugar gélido como a Sibéria –detesto frio. Para um destino caro como Tóquio. Ou para uma terra devastadora, especialmente para uma feminista, como o Afeganistão.

Sendo um bom agente de viagens e, acima de tudo, um oráculo que nunca me decepcionou, achei que deveria levar a sério o meu sonho. Abri o calendário, escolhi uma data e comecei a fazer planos. Precisaria juntar algum dinheiro. Não precisaria, mas queria, uma companhia.

Falei do sonho para a minha filha, em seguida fazendo o convite para que fosse junto. Ela quis saber mais sobre o destino. Contei que Liubliana tem um castelo e é conhecida por ser a cidade dos dragões. Todos mortos, para o alívio da minha menina, e sem princesa pé no saco esperando para ser salva na torre, um segundo alívio.

Ela gostou da ideia. Desde então, tem contado para os colegas que, no próximo ano, vai conhecer Liubliana e Eslovênia, como se fossem os nomes de duas primas distantes ou de uma dupla sertaneja que, previsivelmente, nenhuma das outras crianças ouviu falar.

Da minha parte, venho planejando a viagem. Todos os dias, quando travo na escrita de algum texto ou me entristeço com as notícias do mundo, dou um pulo em Liubliana.

Com um enter, me transporto para os quartos de hotéis. Inclusive para alguns que nunca poderei pagar. Entro, largo meu corpo sobre as almofadas. Depois me levanto, abro as portas balcão com vista para o rio, observo a água correr verde e plácida por baixo da ponte.

Logo eu e minha filha aparecemos na outra margem, sentadas a uma mesinha, comendo um bograc. Eu dou uma bebericada numa slivovica, ela numa Cockta Cockta, a versão comunista —ainda existente— do famoso refrigerante.

Há uma semana, eu não conhecia essas palavras esquisitas, nem lendas de dragões. Há uma semana eu andava numa rotina árida, maquinal, sem novos horizontes. Ainda não sei o que essa sugestão onírica quis, quer ou quererá me dizer, mas já agradeço ao sonho por me obrigar a cavar mais espaço para o sonho no meu dia a dia.


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