Não caia no golpe do ‘melhores livros segundo o New York Times’

Desconfiaríamos, com razão, da legitimidade de algo assim.

Pois troque a fictícia Gazeta de Pequim pelo New York Times e o mandarim pelo inglês. Pronto, é exatamente isso que temos na lista com os pretensos 100 melhores livros do século 21 publicada na semana passada pelo jornalão dos Estados Unidos.

Da centena de obras listadas, apenas 13 nasceram em línguas que não a inglesa. Quatro vêm do espanhol e três do italiano (graças a Elena Ferrante). Há ainda livros escritos em dinamarquês, russo, norueguês, francês, sul-coreano e alemão. Fora isso, só em inglês se escreve bem neste mundo, parece.

Beleza, chega a ser curioso ver Ferrante na primeira posição com “A Amiga Genial”. Mas trombar com Jonathan Franzen e o seu “As Correções” fechando o top 5, bem à frente de “2666”, do Bolaño, já dá vontade de largar a relação e tirar um cochilo. Eu tenho é pena desse povo avestruz, que tem a própria língua como o buraco em que soca a cabeça para ignorar quase toda a literatura que existe pelo mundo.

Do francês temos Annie Ernaux com “Os Anos” em 37º lugar, mas não fica meio estranha uma lista dessas desprezar Michel Houellebecq? Para seguir na língua do croissant, não haveria espaço para Scholastique Mukasonga? E Saramago, só para pensarmos em alguém de nosso idioma sem cair no pachequismo? Tem tanta coisa em inglês melhor do que “As Intermitências da Morte”?

A ficção latino-americana contemporânea está ali com o excelente “Temporada de Furacões”, de Fernanda Melchor (82º lugar), e o supervalorizado Benjamin Labatut com “Quando Deixamos de Entender o Mundo” (83º). Há uma lista de autoras que deveriam estar à frente do chileno: Mariana Enriquez, Cristina Rivera Garza, Selva Almada…

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