E “Babygirl” não é nem uma coisa e nem outra. Romy/ Nicole Kikdman não é nem a maluca que enlouquece e faz da vida do rapaz com quem se envolve um inferno. Não é deslumbrada. Nem é a salvadora dele. Ela é apenas uma mulher, uma executiva, bem sucedida que, para manter seu trabalho, poder, status e família, suprimiu seus desejos e está desesperada por sentir algo, mesmo que este algo seja dor, medo e desejo.
Ela tem uma família linda, um marido ótimo e atencioso, mas com quem não se realiza sexualmente. E a escolha de Antonio Banderas, sex symbol eterno, não foi por acaso. Halina queria justamente que a falta de prazer de Romy não fosse tão pouco “culpa” de um marido tóxico, ainda que a falta de atenção ou os tabus que ele mesmo tem diante de uma mulher que pode se tornar uma loba (ou uma “bitch”) na cama sejam um grande motivo do grande “gap do orgasmo” entre eles.
Aliás, O “gap do orgasmo”, como disse a diretora Halina, existe. “Homens, anotem isso!”, disse ela diante de uma plateia de jornalistas no Festival de Veneza, provocando risos nervosos. E quem é que preenche este “gap” ? A relação cheia de perigo, jogos de poder, submissão e um tiquinho ínfimo de sadomasoquismo que Romy desenvolve com Samuel.
Quem vir “Babygirl” esperando só mais um thriller erótico para chocar ou apenas instigar os instintos, obviamente, vai se decepcionar. O filme não é sobre isso, apesar de também o ser. “É sobre seus pensamentos íntimos, sobre segredos, sobre casamento, sobre verdade, poder, consentimento. A linguagem do sexo é tão complicada, é difícil de se responder sobre sexo porque essa é a história de uma mulher, e espero que seja muito libertadora”, definiu Nicole Kidman em Veneza.
Sobre o desafio de fazer “Babygirl”, a atriz comentou que se sentiu vulnerável, mas que é exatamente esta humanidade e naturalidade que ela quer encarar em seus trabalhos. “Me deixa exposta, vulnerável, e com medo de todas essas coisas quando é entregue ao mundo, mas fazê-lo com pessoas como Halina, Banderas, Dickinson, foi delicado e intimista. A gora a gente está um pouco nervoso, minhas mãos estão tremendo, mas, ao mesmo tempo, estamos muito orgulhosos de ainda fazer parte de um festival como esse, que tem o cinema como prioridade, com filmes que ainda são feitos e, particularmente dirigidos por por uma mulher”, declarou Nicole, que estrelou em1999, ao lado do então marido Tom Cruise, outro longa que é referência em cinema e jogos de poder e erotismo: “De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick.