O PT à procura de novos rumos – 06/11/2024 – Maria Hermínia Tavares

Conhecidos os resultados das disputas municipais, instalou-se acesa discussão pública entre líderes petistas e intelectuais de esquerda sobre os rumos do partido, diante de uma votação que confirma a sua perda de espaço nos principais colégios eleitorais do país.

Importante para o destino do campo progressista, o debate chega com muito vigor e atraso de alguns anos. O impeachment que interrompeu o mandato da presidente Dilma Rousseff, os desmandos jurídicos da Lava Jato, seu uso pelas forças de extrema´direita e, finalmente, a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 conduziram o PT a uma posição defensiva, na qual não parecia necessário –muito menos possível– que o partido refletisse sobre seus erros: a condução desastrada de política econômica depois de 2008, a condescendência em face da corrupção dos seus e dos aliados na coalizão de governo.

A oposição ao governo Bolsonaro e, finalmente, a disputa para tirar-lhe a reeleição, tampouco exigiram renovação programática e um discurso que a traduzisse. A defesa da democracia, de fato ameaçada por um presidente de vocação fascista e intenção golpista, vertebrou a campanha eleitoral e facilitou o apoio a Lula por personalidades e eleitores democratas, mais ao centro do espectro político. Além da oposição à ameaça autocrática, ao candidato bastou a promessa de volta aos bons tempos da primeira década do século. Tempos em que, sob a gestão petista, a economia cresceu; milhões de brasileiros transpuseram a linha da pobreza e se instalaram na chamada classe C; as elites ficaram mais diversas, menos brancas e masculinas; e, lá fora, o país passou a ser considerado nação emergente.

Lula venceu no olho mecânico, de olho no retrovisor, prometendo a reconstrução, sem nenhuma proposta inovadora em qualquer campo da ação governamental.

Por isso, seu governo não consegue deixar de parecer velho e apagado. É bem verdade que são muitas as iniciativas que germinam aqui e ali, nos ministérios mais empenhados em fazer políticas públicas do que em produzir dividendos de curto prazo para seus titulares. Mas elas não conseguem abrilhantar o quinto mandato presidencial do PT.

Assim, o debate em curso na legenda de Lula é mais do que bem-vindo. Na raiz, ele diz respeito a como religar o partido a suas bases populares, hoje disputadas por lideranças de direita capazes de usar as línguas dos pobres e proporcionar-lhes um léxico novo para falar de velhas situações –a exemplo do trabalho por conta própria, hoje circulando sob o nome de empreendedorismo.

Se a questão é essa, o debate não é tanto ir menos ou mais para o centro, falar o idioma evangélico ou usar a sintaxe do pobre empreendedor. Tampouco melhorar a comunicação do governo ou do partido. É encontrar respostas progressistas inovadoras, baseadas em princípios de equidade –além de fiscalmente viáveis –, para os problemas vividos por vasto contingente da população –insegurança no trabalho; medo diante do avanço da criminalidade; baixa qualidade da educação; filas intermináveis no SUS; desastres climáticos. É também acenar com a ideia republicana de governo limpo e de convívio social respeitoso dos valores e das crenças de cada um.


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