Pablo Marçal não deve ser subestimado – 18/08/2024 – Camila Rocha

Pablo Marçal é um trator nas redes sociais. Logo após capitalizar com a performance do exorcismo da carteira de trabalho, o candidato de extrema direita gerou nova polêmica ao receber o apoio da produtora Love Funk.

O gênero musical, extremamente popular nas periferias, já havia sido associado por Marçal a cornos, derrotados, vagabundos e estupradores. Apesar disso, vários jovens MCs apoiaram o político.

Inconformados com o que entendem como uma traição ao movimento funk, artistas como MC Hariel e Djonga criticaram abertamente a decisão da gravadora. No entanto, o leite já foi derramado. A estratégia é amplamente conhecida. Causar polêmicas para crescer. Quanto mais absurda a polêmica, melhor.

Porém permanece a dúvida. Até onde podem chegar influenciadores na política? É possível que, nas palavras de Djonga, um “político fingindo que é da política” consiga chegar ao segundo turno ou mesmo se tornar prefeito? Ou a política tradicional consegue barrar a ascensão de políticos nativos digitais?

Não é à toa que uma candidatura como a de Pablo Marçal à Prefeitura de São Paulo seja competitiva.

Hoje o Brasil pode ser considerado o país dos influenciadores. Segundo uma pesquisa da Nielsen, realizada em 2021, o Brasil contava, então, com 500 mil influencers digitais com mais de 10 mil seguidores. A cifra corresponde praticamente ao mesmo número de médicos que atuam no país (502 mil), e supera o número de engenheiros civis (455 mil), dentistas (374 mil) e arquitetos (212 mil).

Sobre o número de seguidores angariados nas redes, também não ficamos atrás. Somos o segundo povo no mundo que mais segue influenciadores: 44,5% dos usuários brasileiros de internet seguem influenciadores, número inferior apenas ao registrado nas Filipinas (51,4%). Além disso, o Brasil aparece em primeiro lugar no que diz respeito à “influência de influenciadores”.

Em uma enquete conduzida pela Statista em 2020 e 2021, os brasileiros foram o povo que mais comprou produtos propagandeados por influenciadores, superando chineses, indianos, mexicanos, russos e americanos.

Segundo Bia Granja, cofundadora da consultoria YouPix, “as pessoas que estão à margem da sociedade enxergam o digital como um meio de ascensão”, daí o sucesso da indústria da influência no Brasil.

Contudo a indústria da influência não se restringe à venda de produtos nas redes sociais.

De acordo com Emily Hund, pesquisadora do Centro em Cultura Digital e Sociedade da Universidade da Pensilvânia, a partir de 2019 o foco da indústria passou de coisas para ideias. Isso significa que os influenciadores se dedicam principalmente a ensinar algo a seus seguidores. Seus conselhos podem misturar coisas tão díspares como moda e ciência, games, religião e, claro, política.

É o que demonstra Pablo Marçal em um “vídeo didático” no qual ataca Ricardo Nunes com carrinhos e blocos de montar. Se as milhões de visualizações angariadas por seus conteúdos se converterem em votos, Marçal pode chegar ao segundo turno das eleições.


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