Aqui a história ganha muita complexidade: ao fator raça temos que somar o fator gênero. É a tal da inteseccionalidade sobre a qual o feminismo tanto fala. Nesse momento, fica tudo muito mais emaranhado.
Há a suposição de que pelo menos uma das denunciantes seja uma mulher negra, a ministra Anielle Franco. E, ao que consta, há denúncias de outras mulheres cujos nomes estão sendo protegidos por motivos óbvios já que a vida da mulher que denuncia é devassada depois que a denúncia se torna pública e, normalmente, é ela que vai para o banco dos réus.
Não apenas isso: é o Ministério dos Direitos Humanos envolvido em acusações que podem ter sido originadas do interior do Ministério da Igualdade Racial comandado por uma feminista. Estamos falando de núcleos fundamentais para quem é do campo da esquerda. Direitos humanos e feminismo. Em rota de colisão. Enquanto isso, a direita se regozija.
Piora quando ficamos sabendo que o governo que agora fala em celeridade está ciente das denúncias há algum tempo e pouco – ou nada – fez. Piora mas não surpreende já que a atual administração é pouco letrada em questões de gênero e reproduz o machismo e a misoginia sem muita vergonha.
É, assim, a demolição de sonhos e de crenças para muitos e muitas de nós. Para nós, feministas que temos Silvio Almeida na mais alta conta, o sentimento diante das denúncias é de devastação, de desolação, de uma profunda e imensa tristeza. É uma tragédia em seu mais profundo sentido. É a perda de um tanto de esperança. É a fronteira para um abismo que nem sabíamos que estava ali.
Mas é também o chamamento para que enfrentemos a brutal realidade batendo à porta. Dessa vez, não poderemos deixar de abri-la e, ao fazermos isso, os fantasmas entrarão. E eles são muitos e variados.