Os números, portanto, indicam que o mercado francês não é tão relevante para esta interrupção no abastecimento. Por isso, então, boicotar o próprio mercado brasileiro surtiria mais efeito, à medida que o grupo Carrefour – junto às marcas Atacadão e Sam’s Club – é a maior rede de varejo do país, de acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS).
Nesta postura do CEO do Carrefour fica nítida a ameaça que a carne brasileira representa à Europa, pela qualidade e preço. Alcides Torres, analista-chefe da Scot Consultoria, especializada em pecuária, lembra que mesmo com os subsídios do governo francês, a proteína animal do Brasil continua mais competitiva.
“A verdade é que a nossa carne é muito barata, a qualidade é muito boa, a vida de prateleira é melhor que a deles, e isso afeta todo o sistema de produção subsidiado”, ele diz ao UOL.
De acordo com a Associação do Criadores do Mato Grosso (Acrimat), que reúne o maior rebanho pecuário brasileiro, a carne francesa é vendida por 13 euros o quilo, enquanto o produto brasileiro chega a 4 euros o quilo. Assim, o Brasil é visto como uma ameaça aos pecuaristas franceses.
Esta união nacional entre produtores rurais, entidades de classe e o próprio governo tem sido vista de forma positiva, pois significa que o Brasil está amadurecendo no sentido de se impor às exigências europeias. Ainda assim, o analista da Scot Consultoria pondera: “O que dá medo é que mais redes varejistas no mundo, para adotar uma postura de compliance, deixem de comprar produtos do Brasil”.
A preocupação maior certamente é quanto à postura da China, pois esta sim tem peso considerável nas exportações da proteína animal.
Para evitar qualquer fechamento de mercado mais significativo, a análise de Alcides Torres é que os frigoríficos não deixarão de exportar para o Carrefour, “porque quem tem carne precisa vender”. A JBS não esclareceu se, de fato, interrompeu a exportação para a França.