Em julho de 2016, os britânicos votaram a favor da separação política e econômica em relação à União Europeia (UE), o brexit. Em janeiro de 2021, entrou em vigor o acordo de cooperação entre as partes, estabelecendo tarifas, barreiras não tarifárias, limitações à contratação de trabalhadores.
Os argumentos econômicos dos entusiastas do brexit eram que o Reino Unido ganharia liberdade para fazer acordos mais vantajosos com países fora da UE. Haveria maior controle da imigração, abrindo mais empregos aos britânicos e reduzindo a pressão dos estrangeiros sobre os serviços públicos. A regulação econômica poderia ser mais simples e flexível que a da UE, melhorando o ambiente de negócios e, em especial, facilitando o crescimento de pequenas empresas.
Há dificuldade em estimar os impactos econômicos do brexit, devido à sua coincidência temporal com a pandemia de Covid-19. No entanto, estudos recentes buscaram separar os efeitos, e os números não são bons.
Springford (2022) estima que, em junho de 2022, o PIB do Reino Unido estaria 5,5% abaixo em relação a um cenário alternativo em que o brexit não tivesse ocorrido. Kaya e coautores (2023) estimam uma perda de 2% a 3% no curto prazo, crescente ao longo do tempo, chegando a até 6% em 2035. São efeitos muito grandes. Tomando 2016 como ponto de partida, significam um crescimento anual entre 0,3 e 0,9 pontos percentuais mais baixo, ano após ano.
Van Aerssen e Spital (2023) atribuem essa perda à redução do comércio com a UE, que não foi compensada por outros parceiros. Restrições a trabalhadores vindo de países da UE criaram gargalos produtivos em vários setores. As pequenas empresas, supostas beneficiárias do brexit, perderam espaço nas exportações devido aos custos das exigências alfandegárias e barreiras de fronteiras.
Portes (2023) enfatiza a queda na taxa de investimento e seu impacto negativo sobre a produtividade. Uma vez que o Reino Unido deixou de ser atraente como plataforma de exportação para a UE, empresas preferiram se localizar em outros países do bloco.
O Reino Unido tem buscado maior abertura para o resto do mundo. Foi instituído o “UK Global Tariff”, simplificando a estrutura tributária e estipulando tarifa zero para vários produtos intermediários e de consumo final.
Foram assinados acordos de livre comércio com a Austrália, Nova Zelândia, Japão e Noruega. Houve maior abertura para a entrada de mão de obra qualificada, oriunda de países de fora da UE, a ponto de a imigração total ter aumentado.
Boa parte do esforço, contudo, busca apenas recuperar acesso a mercados que o país já tinha como membro da EU. Na imigração, há perda de flexibilidade. Antes, trabalhadores da EU, de alta ou baixa qualificação, se encaixavam nas vagas disponíveis. Agora, a legislação que busca atrair imigrantes de fora da EU aceita apenas os mais qualificados, deixando abertas vagas de baixa qualificação. Um descasamento entre oferta e demanda de trabalho que reduz a eficiência da economia.
O brexit é um exemplo típico da destruição de valor que decorre da redução das oportunidades de comércio e da alocação ineficiente de capital e mão de obra.
O Reino Unido pós-brexit é uma economia muito mais aberta que a brasileira. A corrente de comércio (exportações mais importações em relação ao PIB) é quase o dobro da nossa (66% contra 34%, segundo dados do Banco Mundial). A proteção tarifária média efetiva, no Brasil, é em torno de 25% (Castilho, 2015) contra 3,9% no Reino Unido (UK Trade Policy Observatory).
Esses números dão a dimensão das oportunidades que o Brasil desperdiça. Não temos acordos de livre comércio relevantes. Desde sempre renunciamos à oportunidade de internalizar tecnologia de ponta, mão de obra qualificada, insumos de melhor qualidade e menor custo e novas oportunidades de comércio.
Os britânicos sofrem com o brexit, os brasileiros por nunca terem feito um “Bra-enter”.
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