Polêmica em Cincinnati escancara necessidade de replay no tênis

Agora, às questões quicando por aí: há muitas camadas e pontos interessantes a debater sobre o que aconteceu, suas repercussões e como o circuito pode mudar depois de uma polêmica assim. Logo, é preciso calma para lidar com essa cebola.

Draper mentiu para ganhar o jogo? Não que seja menos grave, mas talvez seja a parte com menos repercussões nesse caso. Sei que o britânico já está sendo condenado nas redes sociais, e o argumento de Auger-Aliassime faz sentido: quem joga há tanto tempo tem (ou deveria ter) uma noção boa sobre aonde a bola vai após o contato com a raquete. Eu prefiro dar a Jack o benefício da dúvida, ainda que ele tenha olhado para o árbitro logo após o fim do ponto. Acho que o único motivo para esse olhada seria uma dúvida sobre o que seria marcado. Ainda assim, uma dúvida não é prova de que ele mentiu ou deu o famoso migué.

É uma falha grave do árbitro? Falha, sim. Fica evidente no replay em câmera lenta que ele errou. Importante? Claro. Foi o match point, afinal. Imperdoável? Nem tanto, já que o quique da bola na quadra só é 100% visível em câmera lenta e, mesmo assim, visto da câmera lateral, colocada no nível da quadra. Em velocidade normal, mesmo nesta câmera, não dá para ter 100% de certeza desse quique. Para um árbitro de cadeira, em um ângulo desfavorável para esse tipo de chamada, não é tão simples. Allensworth marcou o que acreditou ter visto, e isso é o que se pede de um oficial. Não há motivo para crer que ele agiu de má fé.

Por que o Hawk-Eye Live não é usado para decidir esse tipo de lance? Cincinnati não usa juízes de linha. É o Hawk-Eye que faz todas as chamadas de bola boa ou fora. Logo, se o sistema rastreia as bolas e pode determinar ONDE elas quicam, certamente a tecnologia poderia determinar também SE uma bola quicou, certo? Por que não o faz? Esse é um mistério que os defensores incondicionais do Hawk-Eye evitam comentar.

Por que não usar replays em vídeo? Obviamente, os pedidos dos jogadores por essa tecnologia (que já foi testada!) vão aumentar depois desse incidente em Cincinnati. Funcionaria como meio VAR, meio Hawk-Eye. Os tenistas teriam desafios e pediriam a análise do replay. Não seria infalível, evidentemente, porque ainda dependeria de interpretação humana (outro dia um famoso ex-árbitro, para justificar a não marcação de um pênalti, quase disse que o toque da bola – caindo na vertical – sobre o braço esticado de um jogador foi culpa da bola!), mas daria uma solução para o caso de Draper, por exemplo. Ninguém vai falar isso oficialmente, mas talvez seja caro manter um conjunto de câmeras ultramodernas para algo que seria usado apenas uma ou duas vezes em cada partida – e olhe lá.

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