May Solimar, 35, começou a desenhar como um desabafo, para falar do cotidiano de uma mãe solo em São Paulo. Ela, que cresceu no centro da capital paulista, cria pequenas histórias em quadrinhos em que pessoas negras protagonizam cenas do dia a dia, desde situações em que o racismo é evidente até momentos de leveza e descontração, que exaltam a beleza ou a afetividade entre pessoas pretas.
Os dilemas de uma mãe que pensa em empreender mas, sem recursos, se preocupa com as contas que não param de chegar. A autoestima abalada de uma mulher que hoje, mesmo reconhecendo sua beleza, ainda carrega dores do racismo que sofreu na infância. O cuidado de uma mãe ao arrumar o cabelo cacheado de sua filha. Cenas assim são retratadas pela artista. Algumas nascem de experiências próprias e outras situações que algum conhecido relatou.
Seu público é formado principalmente por mulheres negras, mas o objetivo é alcançar também as pessoas brancas “para que elas tenham noção de coisas que a gente sente, que a gente passa e que, às vezes, só desenhando para eles entenderem.”
Machismo e racismo são os principais temas dos quadrinhos, mas May prefere não descrever em detalhes a questão central de cada história. Ela diz querer que as pessoas pensem sobre as cenas e, para isso, ela une imagem e palavra, em poucos quadros, demonstrando como certos olhares, frases e situações podem ser desconfortáveis para pessoas negras.
May define sua arte como ativista. “Gosto de pensar que o que eu tô fazendo colabora pelo menos um pouquinho para uma mudança que eu quero ver.” O envolvimento com pautas do movimento negro se intensificou após o nascimento de sua filha, hoje com 10 anos. “Foi quando precisei parar de alisar o cabelo e me conhecer mais”, afirma ela que diz também ter começado a estudar sobre temas como afrofuturismo.
Além das histórias que posta em suas redes sociais, a ilustradora é responsável pelo G20 em Quadrinhos, histórias semanais sobre temas como racismo ambiental e combate às desigualdades raciais e sociais, assuntos discutidos pela cúpula, que reúne líderes dos países com as maiores economias do mundo, que este ano acontecem no Rio de Janeiro.
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