Chesterton e Bernard Shaw eram inimigos íntimos. Talvez isso seja um exagero. Eram amigos que mantinham grandes polêmicas públicas. Chesterton, que escreveu uma biografia do seu amigo, disse que a maior parte das pessoas se dividia em dois grupos: os que diziam concordar com Shaw e os que diziam não ser capazes de o compreender.
O caso dele era diferente. Chesterton era o único que o compreendia —e não concordava com ele. Um dia, depois de Shaw ter criticado publicamente as opiniões econômicas de Chesterton, o historiador Hilaire Belloc perguntou-lhe porque é que ele não respondia. Chesterton disse: “Meu caro Belloc, eu já respondi. Para um homem com o espírito de Shaw, o silêncio é a única resposta insuportável.”
Responder a críticas ou insultos com silêncio é uma estratégia inteligente e eficaz. Infelizmente, Joe Biden não a conhece. Primeiro, Donald Trump convidou, para um dos seus comícios, um comediante que fez uma piada sobre “uma enorme ilha de lixo que existe no oceano Atlântico. Parece que se chama Porto Rico.” A vantagem estava do lado dos democratas. Bastava estarem quietos: um convidado de Trump tinha dito que Porto Rico era lixo.
Mesmo sendo um comediante, o fato ter dito a piada num comício político transformava-a num insulto. Ignorando o conselho de Chesterton, Biden resolveu responder. “Lixo são os apoiantes de Trump”. E pronto, vantagem dos republicanos. Ser insultado é benéfico. Quem insulta não percebe que o insulto é um bumerangue que causa dano ao próprio. É uma granada que estoura na mão de quem a atira. Insultar eleitores é uma atitude particularmente burra. Em democracia, talvez seja bom recordar, quem manda são eles. Insultá-los não é, evidentemente, boa ideia.
Hillary Clinton já nos tinha ensinado isso mesmo quando chamou “cesta de deploráveis” a metade dos apoiantes de Trump, com os resultados que se conhecem. Só há uma maneira de recuperar a simpatia do eleitorado. Biden deve agora insultar o outro lado, para equilibrar. Tem de dar aos democratas a mesma vantagem que deu aos republicanos. Se ele gosta verdadeiramente de Kamala, deve chamar-lhe os piores nomes de que se conseguir lembrar.
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