Sempre que uma nova temporada da NBA está prestes a começar, o debate sobre os times favoritos e os jogadores que devem brigar pelo prêmio de MVP esquentam. Não chega a ser difícil também encontrar entre os fãs um exercício de imaginação sobre qual treinador parece mais ameaçado a perder o emprego.
A história da última semana
Duas temporadas atrás, o Sacramento Kings se classificou aos playoffs com a segunda melhor campanha da Conferência Oeste e com o ataque mais eficiente de toda a NBA. O resultado acabou por premiar a aposta na contratação de Mike Brown, que saiu da comissão técnica do Golden State Warriors para assumir o comando desta equipe e revolucionar o sistema ofensivo. Deu certo logo no primeiro ano de experiência.
Mas também não passou disso. Os Kings só andaram para trás depois que alcançaram os playoffs naquela oportunidade. Caíram no play-in na temporada passada. Na atual, têm mais derrotas do que vitórias e se encontram a uma distância preocupante de quem briga por playoffs no Oeste. Em meio a tanta coisa dando errado, veio a demissão de Brown.
O fato aconteceu na sexta-feira. Brown recebeu a notícia por meio de um telefonema enquanto dirigia para o aeroporto, onde pegaria o voo para comandar os Kings em um jogo contra os Lakers em Los Angeles.
Um monte de gente se revoltou. Steve Kerr, técnico do Golden State Warriors, e Michael Malone, comandante do Denver Nuggets, e JB Bickerstaff, comandante do Detroit Pistons, expressaram publicamente solidariedade ao companheiro de profissão e duras críticas a quem o dispensou.
Pelo o que alguns jornalistas dos EUA apuraram nos últimos dias, havia dentro dos Kings um grande apreço por Brown, tanto profissionalmente como pessoalmente, o que gerava também uma resistência à ideia de dispensá-lo. Só que era ainda mais forte que isso tudo a sensação de que uma mudança se fazia necessária.
Zach LaVine, Brandon Ingram, Cam Thomas e Kyle Kuzma foram alguns dos jogadores por quem a equipe de Sacramento chegou a cogitar fazer uma troca, na tentativa de reformular o elenco. O próprio Brown foi consultado algumas vezes sobre o que julgava que poderia ser mudado para ajudar os Kings, seja no grupo de jogadores ou até mesmo na comissão técnica.
Quem tem assumido o posto de treinador é Doug Christie, ex-jogador dos Kings e que já vinha trabalhando na comissão técnica. A não ser que ele conduza uma grande reviravolta e mostre que era tudo o que o time precisava para reagir, não é difícil imaginar que mais mudanças aconteçam até 6 de fevereiro, quando a janela de trocas na NBA se encerra.
Olha o que ele fez
A NBA tem muito o que comemorar sobre a rodada de Natal. Foram bons jogos. Alguns, ótimos. Quatro dos cinco foram decididos apenas nos instantes finais. Só Phoenix Suns x Denver Nuggets terminou com diferença de dois dígitos no placar.
Daria para falar sobre como o Minnesota Timberwolves abriu mais de 20 pontos, deu toda a pinta de que ganharia de lavada do Dallas Mavericks, viu a diferença evaporar no fim, correu o risco de tomar a virada, segurou o resultado e ainda viu Anthony Edwards dar uma provocada, como se seu time não fosse um freguês dos atuais campeões do Oeste.
Também daria para discorrer sobre o show que Victor Wembanyama deu no Madison Square Garden, apagando completamente a impressão ruim que deixara por lá no ano de novato, mas que acabou sendo ofuscada pela redenção de Mikal Bridges, que acertou tudo na reta final e conduziu o New York Knicks à vitória sobre o San Antonio Spurs.
Teve ainda o Philadelphia 76ers. Foi até observado por aqui que uma vitória sobre o Boston Celtics na casa dos campeões serviria como uma grande injeção de motivação para o decorrer da temporada, depois de um começo tão ruim. Foi o que aconteceu. O time saiu de lá com a sensação de que ainda dá para sonhar com coisas boas se Joel Embiid, Tyrese Maxey e Paul George puderem jogar juntos de maneira mais recorrente.
Mas se é para destacar um só, aí vai ter que ser o duelo que colocou mais uma vez LeBron James e Stephen Curry frente a frente num 25 de dezembro. Foi a quarta vez que isso aconteceu. E antes que alguém pudesse reclamar de uma mesmice, o que acabou se vendo em quadra foi um grau altíssimo de entretenimento. Ainda que o Los Angeles Lakers tenha tido vantagem durante praticamente o tempo todo, o Golden State Warriors não deixou o placar desgarrar.
LeBron fez 31 pontos e deu 10 assistências. Curry marcou 38 pontos, incluindo duas bolas de três em momentos derradeiros que mantiveram os Warriors vivos e que empolgaram quem estivesse assistindo do sofá.
A primeira foi quando restavam 12 segundos. Ele recebeu um passe de Draymond Green na zona morta e chutou por cima de LeBron James, levemente desequilibrado. A bola entrou, e a vantagem dos Lakers caiu para um ponto. Em seguida, falta rápida em Austin Reaves, que converteu os dois lances livres que bateu. Três pontos de diferença. Aí Curry foi acionado uns três passos atrás da linha de três. Viu-se com espaço, aproveitando uma falha de comunicação da defesa adversária depois de um bloqueio. Como ele mesmo já mostrou várias vezes ao longo da última década e meia, grandes distâncias não são um problema. Cesta. Jogo empatado. Seis segundos no relógio.
Como era de se esperar, a defesa dos Warriors se esforçou bastante para negar as linhas de passe para LeBron. Funcionou. O grande astros dos Lakers não encostrou na bola durante o último ataque do time na partida. Quem acabou recebendo foi Austin Reaves, que encarou a marcação de Andrew Wiggins, cortou com certa facilidade pelo fundo, finalizou antes que Jonathan Kuminga pudesse aparecer para ajudar a contestar e fez a cesta da vitória.
Foi a coroação de uma grande atuação de um herói improvável. Reaves saiu de quadra com um triplo-duplo: 26 pontos, dez rebotes e dez assistências. E neste mais recente capítulo de uma grande história sobre os encontros natalinos de LeBron e Curry, coube a ele definir o placar. Não é pouca coisa.
Abre aspas
“Nós geralmente não comentamos rumores, mas toda essa especulação tem sido uma distração para o time, e isso não é justo com jogadores e comissão técnica. Portanto, vamos deixar claro uma coisa: nós não vamos trocar Jimmy Butler.”
Foi isso o que saiu um comunicado que o Miami Heat divulgou assinado por Pat Riley, presidente da equipe.
O comunicado em questão foi emitido um dia depois da notícia, apurada por alguns jornalistas dos EUA, de que Butler gostaria de ser trocado ainda nesta temporada — o que teria de ocorrer até 6 de fevereiro. Phoenix Suns, Golden State Warriors, Dallas Mavericks e Houston Rockets seriam destinos favoritos do jogador, de acordo com o que se noticiou.
O contrato de Butler prevê salário de US$49 milhões nesta temporada e uma “player option” ao final dela. Se não exercer a cláusula, que é o que parece mesmo mais provável neste momento, ele vai se tornar um agente livre a partir de junho e poderá se transferir para qualquer outro time sem que o Heat obtenha nada em troca.
Não há nada que obrigue Riley a cumprir a promessa feita no comunicado, mas pegaria muito mal se isso acontecesse. Dá para acreditar, sim, no que está escrito ali: que o presidente da franquia não pretende envolver Butler em uma troca. Faz sentido porque não há nenhum movimento muito óbvio pipocando e que melhoraria a equipe.
Para o Heat, não seria má ideia deixar o contrato do camisa 22 acabar daqui a alguns meses, vê-lo sair de graça para algum outro time e economizar na folha salarial. Portanto, se Butler tem mesmo vontade de sair ainda no decorrer da atual temporada, conforme o que chegou a ser noticiado antes do comunicado, terá de partir dele alguma ação para tornar isso realidade.
Abre aspas 2
Serão várias, na verdade. Porque vale a pena pegar uma série de respostas que Kevin Durant deu aos seguidores no Twitter para defender o basquete que se joga hoje em dia na NBA.
Antes, vale esclarecer o contexto: no início do mês, saiu uma notícia nos EUA indicando uma queda de 28% na audiência dos jogos da NBA. A medição foi feita apenas sobre os canais pagos de televisão, desprezando os streamings. Ainda que fosse prudente levar esse e mais vários outros fatores em consideração antes de qualquer coisa, naturalmente surgiram incontáveis teses nas redes sociais de gente tentando explicar um suposto baque de popularidade. Boa parte regadas de saudosismo e decididas a eleger as bolas de três pontos como principal inimiga do entretenimento. No caminho para isso, um enorme e desproporcional lamento pela redução drástica de tiros de média distância.
Dito tudo isso, seguem as tuitadas:
“Estão reclamando por engajamento. Estão gritando por mais arremessos de média distância agora, mas detestavam isso alguns anos atrás. Nunca vão ficar felizes. Porque, na verdade, não gostam de basquete.”
“Nos anos 1990, davam chutes ruins de média distância o tempo todo e ninguém se importava.”
“Quando chega a hora decisiva, o arremesso de média distância está lá. Mas no jogo dos dias de hoje, faz mais sentido você utilizar a quadra toda para atacar, abrindo espaço arremessando bolas de três e infiltrando no garrafão. As defesas são boas demais para que se ataque apenas na média distância. É preciso diversificar.”
“É mais fácil jogar na defesa quando você não está preocupado em marcar alguém fora do garrafão. Defender na NBA é difícil porque quando todo mundo que está em quadra é capaz de ameaçar de longa distância, você fica mais tempo isolado, seus companheiros ficam com receio de sair para fazer a cobertura e deixar livre um bom arremessador.”
“Não estou defendendo que um jogador tente 10 arremessos de três por jogo. Mas se essas oportunidades aparecerem para alguém, que sejam aproveitadas. Em algumas partidas, você vai ver as bolas entrando, vai esquentando e, no fim, acaba chutando 12 vezes. O simples fato de estar aberto para arremessar de três pontos abre espaço para todo o resto.”
“Se está mais ou menos divertido do que nos anos anteriores, aí é decisão sua. É a sua experiência, não a minha. Só estou falando sobre a evolução do esporte e como o jogo nos dias de hoje é baseado em utilizar a quadra toda, o que naturalmente traz mais bolas de três.”
Quer saber de uma coisa? Conversa inteligente e de alto nível.
Durant brilhou. Foi elegante, paciente e extremamente didático. Desmistificou uma série de elementos que pipocaram por aí provenientes do achismo, ofereceu uma visão tática que muitas vezes passa despercebida por um fã médio de basquete, ao mesmo tempo em que não tentou emplacar nenhuma verdade absoluta – “decisão sua; é a sua experiência, não a minha”.
Uma estatística
Apenas 20 quintetos ficaram em quadra por mais de 150 minutos na temporada até agora. Em tempo de uso, a liderança disparada não chega a ser uma surpresa. Pertence ao New York Knicks, que é comandado por Tom Thibodeau, um sujeito que passa longe de ser reconhecido por usar com profundidade o elenco que tem em mãos.
São 539 minutos para a formação composta por Karl-Anthony Towns, OG Anunoby, Josh Hart, Mikal Bridges e Jalen Brunson. Mais de 130 minutos de diferença para o quinteto principal do Houston Rockets, formação que aparece em segundo lugar neste ranking dos mais frequentes da NBA. Os resultados são semelhantes: os cinco nova-iorquinos têm saldo de 6,3 pontos a cada 100 posses de bola; o time do Texas, 6,7.
E a quem pertence melhor resultado, dentre esses 20 quintetos com pelo menos 150 minutos de ação na temporada? Também não é uma surpresa: ao Boston Celtics. Saldo de 20,6 pontos a cada 100 posses de bola para a formação composta por Al Horford, Jayson Tatum, Jaylen Brown, Jrue Holiday e Derrick White. O que, de certa forma, tranquiliza em meio às derrotas que a equipe tem sofrido nos últimos dias durante a ausência de Holiday.
Se fosse montar um pódio de melhores resultados, dá para classificar como surpresas os ocupantes dos outros dois lugares.
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2º San Antonio Spurs: Victor Wembanyama, Harrison Barnes, Julian Champagnie, Stephon Castle e Chris Paul. Saldo de 18,4 pontos a cada 100 posses de bola (125,5 pontos de eficiência ofensiva, 107,1 de eficiência negativa) em 151 minutos.
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3º Los Angeles Clippers: Ivica Zubac, Derrick Jones Jr, Norman Powell, Kris Dunn e James Harden. Saldo de 16,4 pontos a cada 100 posses de bola (114,6 e 98,2) em 180 minutos.
Ficou curioso para saber o pior? Pois não: é o quinteto principal do Portland Trail Blazers. Anfernee Simons, Toumani Camara, Deni Avdija, Jerami Grant e DeAndre Ayton ficaram juntos em quadra por 181 minutos e registram um saldo de -17,2 pontos a cada 100 posses de bola (98,7 pontos de eficiência ofensiva, 115,9 pontos de eficiência defensiva).
Os Blazers têm ainda um outro quinteto com mais de 100 minutos em quadra nesta temporada, cuja única diferença em relação ao anterior é a entrada de Shaedon Sharpe na vaga de Avdija. E não é que o resultado é ainda pior? E não é pouco, não. É muito pior: saldo de -30,9 pontos a cada 100 posses de bola em um total de 125 minutos.
Será que é para valer?
Segunda escolha do último Draft, Alex Sarr ainda tem uma série de questões a serem aprimoradas ofensivamente. Mas nos últimos seis jogos que disputou pelo Washington Wizards, acertou 15 dos 32 arremessos que tentou — o que representa um ótimo aproveitamento de 47%.
O melhor rendimento do francês é, claro, ao redor da cesta: ele acerta 73,7% das finalizações que tenta por ali, o que faz todo o sentido para alguém de 2,13m. O problema é que isso não acontece de forma tão frequente. Somente 20% dos arremessos de Sarr são nas proximidades do aro. O que, para ser justo, está também na conta do restante do elenco e da comissão técnica, incapazes de acioná-lo mais vezes nessa situação.
Mas o desenvolvimento de um bom arremesso de longa distância ajuda muito qualquer jogador, independentemente da posição. Má notícia não é. Resta saber se é o indício de algo animador ou se tem sido apenas uma curiosa distorção.
O que vai ter na tela da ESPN
Quarta-feira (1):
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Philadelphia 76ers x Sacramento Kings, às 23h59
Por que assistir: são times de campanhas bem parecidas, mas que atravessam momentos completamente distintos. Os Sixers vêm embalados por uma sequência de vitórias, cujo ápice foi o triunfo em Boston sobre os Celtics. Com a possibilidade de enfim colocar em quadra suas três grandes estrelas ao mesmo tempo, estão esperançosos por uma arrancada na temporada depois de um começo tenebroso e preocupante. Já os Kings estão em crise. Emplacaram seis derrotas consecutivas e se encontram cada vez mais distantes da zona de classificação para o play-in no Oeste. O técnico Mike Brown acabou pagando a conta e foi demitido. Uma vitória neste duelo ajudaria a acalmar um pouco as coisas e alimentaria a esperança de alguma reação na segunda metade do campeonato.
Sexta-feira (3):
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San Antonio Spurs x Denver Nuggets, às 23h
Por que assistir: os Spurs têm uma campanha que hoje os permitem sonhar com pelo menos uma vaga no play-in, resultado que já seria um grande salto em relação ao ano anterior. A caminhada nesta temporada já conta com vitórias sobre alguns times fortes do Oeste, que estão brigando pelas primeiras posições na tabela de classificação da conferência. Enfrentar os Nuggets em Denver pode ser mais uma oportunidade interessante de ver como essa equipe se sai contra alguém que muito provavelmente irá para os playoffs sem escala.