Trazer vinho de viagem é um B.O. e uma bênção – 11/11/2024 – Isabelle Moreira Lima

Outro dia perdi a noção do tempo assistindo a um vídeo que ensinava o melhor jeito de acondicionar os pertences em uma mala. Entre pares de brincos que são atarrachados em botões (assim ninguém solta a mão de ninguém) e bexigas que são usadas para evitar derramamento de shampoo, vi uma garrafa de vinho ser envolvida em uma fralda. Não me pareceu má ideia, afinal o enchimento (polímero poliacrilato de sódio) deve ser capaz de absorver o líquido caso a fofura da fralda não segure a onda do chacoalhar da bagagem.

Mas acondicionar uma garrafa não me parece ser exatamente o maior drama de trazer vinho como recuerdo de uma viagem hoje. O maior deles talvez seja o peso, já que cada garrafa tem em média 1,5 quilo e na classe econômica internacional costuma ser permitido trazer um volume de 23 quilos. Além disso, em voos internacionais o comum é que não se permita levar na mão qualquer garrafa que não as compradas no duty free —salvo exceções de algumas origens, como Mendoza, na Argentina.

Antes que você ache esse papo de trazer vinho na mala meio ilegal, vale lembrar que é possível fazê-lo respeitando as regras do jogo: você traz vinho para beber, não para vender; e se passar dos US$ 1 mil, você declara à alfândega. São permitidas 16 garrafas (12 litros ou 24 quilos) de vinho.

E por que trazer vinhos de viagens, se no Brasil temos tanta variedade de estilos, países, filosofias de produção? Bem, trazê-los é um jeito de prolongar a magia das férias, além de um souvenir sensorial do que você acabou de viver, principalmente se você é um apreciador de vinhos e viaja também para comer e beber (como é o meu caso, assumo).

Por isso, e por toda a dificuldade de transporte, acho que só vale trazer o que é realmente diferente: vinhos que não estão no mercado brasileiro, ou produzidos em uma vinícola que você visitou e amou, ou que marcaram algum momento especial na viagem.

A ocasião também pode fazer o consumista maluco, como quando descobri a loja Vino El Salvador, em Palermo, Buenos Aires, e em cerca de sete minutos consegui comprar 11 garrafas. Eu tinha pressa para ir ao aeroporto e estavam ali reunidos os rótulos mais bacanas que eu tinha provado em cinco dias de viagem, além de outros com uma cara muito boa. Confiei no instinto e, enquanto a vendedora somava, eu trazia novos vinhos para o balcão. Depois, o sufoco foi fazer tudo caber na mala. O horror.

Só uma vez perdi uma garrafa e ponho a culpa na mochila mole que a levava. Era um vinho do Porto branco e até hoje lamento seu triste fim. Ele não estava envolvido em uma fralda, infelizmente, mas ficou ali uma lição de que não dá para brincar tanto com a sorte. Desde então, (re)uso as chamadas wineskins, embalagens próprias para transportar garrafas, forradas por plástico bolha e cobertas por plástico duro. No meio de uma mala e cercadas por roupas, são bem eficientes.

Ao chegar em casa com esses deliciosos recuerdos líquidos, é preciso ter paciência e esperar. Assim como nós, os vinhos sofrem de jet lag. No transporte eles podem sofrer alterações na cor, no sabor e nos aromas. Foi por isso, aliás, que se inventou o vinho do Porto. Para que viajasse melhor do Douro até a Inglaterra, descobriram que a aguardente vínica era como uma espécie de conservante. Mas essa já é outra história (e outra viagem).

Vai uma taça?

Como falamos de Porto, amo o drink porto tônica e o Porto Ceremony Dry White (R$ 71 no Carrefour) é uma boa escolha para a mixologia. Também no clima festivo, indico o cava Vilarnau Reserva Brut (R$ 134 na La Pastina). Se preferir um tinto para acompanhar comida, o Bayanegra Tempranillo 2023 (R$ 102 na Mistral) vai com carnes e embutidos.


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