Um fantasma andou me assombrando recentemente. Um encosto desse tipo que te acompanha sorrateiramente. Consigo percebê-lo nas sombras, por cima do ombro, no escuro do banheiro, seu bafo quente soprando no meu cangote. Mas, como em cena de filme de terror, acendo a luz e me percebo sozinha, minha imagem solitária refletida no espelho, sem um monstro sequer me encarando de volta, apenas os meus olhos cansados das noites mal dormidas, assustadores o suficiente, diga-se de passagem.
O assombramento começou não faz muito tempo, mas rapidamente começou a ocupar espaço. Como uma lenda urbana que você ouve uma vez e depois outra e depois mais uma, da boca de gente que nem se conhece e, repetida tantas vezes, ganha ares de verdade, do possível, ou pior: do inevitável.
A primeira vez que a ouvi, foi pela metade. Jantando com meu grupo de amigas 40+ naquele um dia no mês que conseguimos nos livrar momentaneamente dos nossos respectivos grilhões para, por algumas horas, reclamar do trabalho, rir na cara da sobrecarga, beber drinks inflacionados e trocar dicas de suplementos alimentares e séries de true crime.
E foi lá pelo fim do quarto drink, na volta da segunda ida ao banheiro, que peguei o trem da conversa andando e ouvi uma palavra ser repetida pelo menos três vezes em sequência, coisa que, todo mundo sabe, amarra no pé todo tipo de assombração. Bati discretamente na madeira na tentativa de quebrar o feitiço, mas já era tarde. A partir daquela noite, pelo menos uma vez ao dia, ouço a maldita palavra ecoar nos meus ouvidos novamente: perimenopausa, menopausa, menopausa.
Eu odeio menstruar e sofri copiosamente ao me deparar com sangue entre as pernas pela primeira vez depois de longos e deliciosos anos de (meno)pausa decorrentes da gravidez. A expectativa, portanto, de uma vida livre de menstruação deveria soar como conto de fadas.
Mas a perspectiva de ver a minha fertilidade morrer uma morte lenta e dolorosa, que, reza a lenda, envolve o corpo pegando fogo e o cérebro falhando, faz a cólica e as calças manchadas de sangue parecerem um passeio no parque.
Ainda assim, quando fiz 40, não pensei sobre o assunto. É certo que o colágeno já estava dando adeus e a lombar não andava lá essas coisas, mas a Claudia Raia pariu com 55, então devo ter pelo menos uns dez anos sem me preocupar, pensei. Ledo engano.
Segundo o Google, a perimenopausa pode começar, pasmem, a partir dos 40 anos. Mas, como com qualquer fenômeno (sobre)natural, é possível, com algum esforço ($) quebrar seu feitiço. Hormônios, suplementos, exercícios físicos e mentais são os ingredientes jogados neste caldeirão. E só de ler a extensa lista de dicas de como sobreviver a algo que está no destino de todas nós, fecho o computador como a criança que fecha o livro momentos antes do demônio puxar o pé que se balança para fora da cama.
Passado o susto inicial, resolvi dar uma chance ao fantasma, conversando com gente que já tinha tido contatos de terceiro grau com o fenômeno e que saiu viva do outro lado para contar a história. E de repente, o encosto me deu trégua. É que tal qual Beetlejuice, que surge quando se fala seu nome três vezes, a perimenopausa também deixa de assustar quanto mais se fala sobre ela.
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