Pai e filho sofrem um acidente de carro, o pai morre no local e o filho é socorrido às pressas. No hospital, a pessoa mais competente do centro cirúrgico diz: “Não posso operar este menino, ele é meu filho”.
No enigma que volta e meia circula na internet, surgem variadas respostas: a pessoa mais competente era avô, padrasto, pai biológico, pai reencarnado ou foi Deus. Para muitas pessoas, a surpresa vem ao descobrir que a resposta correta era “mãe”.
Esse experimento da internet, embora anedótico e sem validade científica, ilustra a dificuldade de reconhecer mulheres em papéis de destaque. Está coerente com evidências e com os preconceitos que elas encaram para ter seus feitos reconhecidos.
Mesmo com desempenho superior em várias métricas acadêmicas, mulheres enfrentam barreiras para entrar e permanecer no mercado de trabalho. Segundo relatório da OCDE de setembro, a taxa de conclusão do ensino superior para mulheres entre 25 e 34 anos é de 28% no Brasil, enquanto para homens é de 20%.
Mulheres com ensino superior recebem em média 75% dos salários dos homens, disparidade mais ampla que a média na OCDE, de 83%. A desigualdade persiste em níveis de escolaridade mais baixos: entre as jovens com escolaridade até o ensino médio, só 44% estão empregadas, comparado a 80% dos jovens homens.
Reconhecendo essas disparidades e sua relação com os estereótipos de gênero, foi sancionada a lei 14.986/2024, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). A nova lei obriga incluir nos currículos escolares as contribuições femininas nas ciências, artes, cultura e política e institui a Semana de Valorização de Mulheres que Fizeram História, a ser realizada anualmente em março em todas as escolas. A iniciativa visa inspirar meninas a ocuparem posições de liderança em diversas áreas e promover a valorização da trajetória feminina por todas e todos.
Com isso, a lei busca contribuir para romper com estereótipos de gênero e fortalecer a presença feminina em campos onde elas são sub-representadas, como ciência e tecnologia, evitando a perpetuação desse ciclo. Mulheres históricas, como Antonieta de Barros, Carolina Maria de Jesus, Nise da Silveira e Bertha Lutz, são figuras cuja valorização enriquece o entendimento da contribuição feminina no Brasil e no mundo.
A educação precisa garantir que o sucesso acadêmico das meninas resulte em oportunidades reais e justas no mercado de trabalho. Promover a equidade de gênero nas escolas é essencial para criar uma sociedade mais justa e representativa. Valorizar e ensinar a trajetória das mulheres pode inspirar gerações a sonhar sem as limitações dos estereótipos.
No entanto, para que a lei não seja inócua, é essencial que escolas e redes de ensino estejam preparadas para trabalhar com essas diretrizes. A experiência da lei nº 10.639/2003, que também alterou a LDB para tornar obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira, mostra que, sem monitoramento e avaliação eficaz, essas mudanças podem enfrentar dificuldades de implementação. Ótima oportunidade para aprender com erros recentes e assegurar que a iniciativa atinja seu propósito.
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