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Ficcionalizar a estrutura, sim, mas em especial construir enredos que traduzam e contextualizem o seu funcionamento, a dinâmica das decisões que acontecem dentro daquelas salas quase sempre tão fechadas às sociedades, mas tão escancaradas aos interesses próprios de quem as ocupa.

Sem privilegiar este ou aquele lado, defende a Fernanda durante o artigo, a obra precisaria ter fôlego, ou seja, ser algo como uma novela ou série, de modo que dê tempo de mergulhar nos detalhes, buscando costurar com a vida de quem assiste, aqui do outro lado. Como o poder parece um mundo tão à parte, e cada vez mais é assim, esta ponte se faz necessária para gerar o sentir e o sentido.

Tarefa difícil por aqui, ela diz, e eu concordo, mesmo doze anos depois do artigo ser escrito. Gostaria de escutá-la sobre isso nos dias atuais. As poucas tentativas que foram feitas em busca de uma ficcionalização do jogo político brasileiro caíram em duas armadilhas. Quando não foram caricatas a ponto de virarem piada nas redes sociais, escolheram um lado e contaram a história a partir dali.

O convite da Fernanda é outro: contar como o jogo é jogado, por toda e qualquer pessoa que esteja dentro dele, não importando o seu lado ideológico. Como ela diz em determinado momento do texto, é “contar a saga de cada secretária, de cada adjunto de ministro”.

Voltei a este artigo da Fernanda, pois as reportagens e análises políticas de cada começo de ano parecem uma repetição do ano anterior: nunca tivemos um sistema político tão distante da vida das pessoas. A sociedade nunca foi tão descrente das pessoas escolhidas para representar seus interesses, o que é, no mínimo estranho, já que a própria sociedade as escolhe por meio do voto.

Talvez o que a gente precise mesmo (e agora) é entender melhor como funcionam as instituições e os espaços de poder. De novo, humanizar como o jogo o jogado, interpretar seus jogadores. E nisso, uma ficção impacta mais as pessoas que 13 mil discursos.

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